Colegiado ouviu representantes da Distribuidora de Produtos Nordestinos (DPN) e Nova Comércio; da Rede Opção; e dos Postos Global, durante reunião desta quarta-feira (19).
Representantes de dois postos de combustíveis estiveram presentes na Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), na manhã desta quarta-feira (19), durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga suposta prática de cartelização de preços nos combustíveis comercializados na Capital. Foram ouvidos representantes da Distribuidora de Produtos Nordestinos (DPN) e Nova Comércio; da Rede Opção; e dos Postos Global. Durante a reunião, o colegiado também ouviu representante da distribuidora Vibra.
DPN e Nova Comércio
O representante da Distribuidora de Produtos Nordestinos (DPN) e Nova Comércio, Ruy Bezerra, explicou que a empresa familiar foi fundada em 1970, começou como distribuidora de bebidas, posteriormente passou a realizar a venda de combustíveis e hoje conta com 30 postos na Capital, totalizando 38 na Paraíba. Respondendo ao vereador Valdir Trindade (Republicanos), Ruy Bezerra destacou que não realiza ingerência a respeito de parâmetro de preços e que não tem conhecimento quando há um reajuste na tarifa de combustíveis direto na fonte.
“Tomamos conhecimento dos reajustes pela imprensa, quando a Petrobrás reajusta seu preço para cima ou para baixo. Inclusive, com bastante dificuldade da gente repor o produto imediatamente no dia seguinte, seja para aproveitar uma baixa de preço ou evitar um aumento. Isso é praxe no mercado há um tempo, as distribuidoras restringem bastante o dia seguinte ao aumento. Quando um aumento é anunciado, no dia seguinte, a gente tem muita dificuldade de comprar”, relatou Ruy Bezerra, acrescentando que não há uma fórmula específica na formação do preço na bomba e que a competitividade também é um fator essencial para manter o volume de venda.
Sobre o reajuste de preços verificado nos postos de combustíveis da Capital em agosto, no valor de R$ 0,40, Ruy Bezerra afirmou que nem todos os seus postos modificaram os preços. “Na nossa rede, não se deu esse aumento linear de 40 centavos. Postos nossos sequer aumentaram os preços, uns permaneceram a mesma coisa, outros aumentaram um pouco, outros mais. Inclusive, enviamos todas as notas e cupons fiscais de venda para a comissão, vocês vão perceber que nem todos os postos reajustaram”, respondeu.
Sobre a formulação de preços, ele afirmou que não recebe pressão de ninguém. “Os preços são livres, a gente define preços baseado nos concorrentes. Mas, costumo dizer que para baixar, sou rápido. Para aumentar, avalio, crio mecanismos de desconto, mas sempre pensando em manter o equilíbrio financeiro da empresa em médio e longo prazo”, enfatizou.
Respondendo ao vereador Fábio Lopes (PL), Ruy afirmou que não faz parte do Sindipetro, não tem interação com outros donos de postos de combustíveis e que o percentual de lucro dos postos é em torno de 10%. Sobre a litragem de combustíveis vendidos, ele respondeu ao presidente da comissão, vereador Mikika Leitão (MDB), que vende cerca de quatro milhões de litros na Paraíba, sendo três milhões na Capital.
O relator Tarcísio Jardim (PP) perguntou como há uma equiparação de preços, mesmo quando o produto é comprado em locais diferentes, como em Cabedelo ou em Suape (PE), e tendo despesas diferentes, como o frete de Suape até a Capital. “Quando se compra em caminhão próprio, há todos os custos envolvidos de ir em Suape pegar o produto. Eu, particularmente, não me atenho ao transporte, por conta dos riscos envolvidos na operação, prefiro receber mais caro em Cabedelo, mas receber na porta”, afirmou Ruy Bezerra.
Ainda respondendo ao vereador Tarcísio sobre se um possível monopólio poderia incentivar a equiparação de preços, Ruy Bezerra destacou que há diferenciação de tarifas entre seus postos. “Trabalhamos com preços variados dentro da própria rede, dependendo da região, da bandeira, se o cliente tem aplicativo ou não”, justificou.
Postos Global
Representando os Postos Global, Edvaldo Gomes Sobrinho informou que a rede possui apenas dois postos na Capital e não sofre pressões externas na fixação de seus preços. Respondendo ao vereador Valdir Trindade, ele afirmou que a rede já foi autuada. “Numa fiscalização da APN, a rede foi notificada e autuada por problemas técnicos, uma mangueira que estava desgastada. Foi uma questão de segurança, as fiscalizações observam isso”, salientou Edvaldo Gomes.
Respondendo à vereadora Jailma, ele confirmou que a rede acompanhou o mercado em agosto, no reajuste de preços. “É público e notório que todos os postos acompanharam o reajuste. Talvez não o total dos 40 centavos”, declarou, salientando que presta serviços na parte de licenciamento ambiental e que a função de formação de preços fica a critério de João Evangelista, que é o proprietário.
Tarcísio Jardim agradeceu a presença de Edvaldo Gomes e destacou que a representação de dois postos na Capital “não influencia na questão da padronização de preços, que já caracterizamos mais uma vez na sessão de hoje”.
Rede de Postos Dias Comércio
O advogado João Brito, da Rede de Postos Dias Comércio, ressaltou que representava os proprietários devido a viagem pré-agendada, antes da convocação, e garantiu ter conhecimento técnico das operações que lhe possibilitaram responder determinados questionamentos. Ele respondeu aos questionamentos dos vereadores Valdir Trindade (Republicanos), Jailma Carvalho (PSB) e Fábio Lopes (PL).
“Posso garantir que não houve nenhuma reunião para combinar preço em nossa cidade. Se houve algo parecido, não foi relatado. Sobre o aumento na bomba, orientamos juridicamente para que só repasse aumentos após encerrado o estoque que já havia no posto. Muitas vezes somos surpreendidos com um aumento no valor final da nota, mas o repasse só ocorre após finalizado o estoque que já existia. Sobre o aumento de 40 centavos, posso garantir que não houve um aumento uniforme em nossos postos. Não seguimos planilha reta de aumento, há diferenciação de preços de acordo com o bairro que o posto está localizado”, explicou.
De acordo com ele, os postos controlam suas vendas através de um caderno específico, da leitura das vendas no tanque, que já tem os medidores online. “Participo da formação do preço com uma planilha de controle diária, que pretende estabelecer uma margem de valor baseada na concorrência, observado um raio que possa estabelecer interferência de preço no mercado da região mais próxima. Nossos aumentos não chegaram a 40 centavos. Posso garantir que devido a uma prática antiga, os donos de postos nem sentam na mesma mesa. Administramos três postos na cidade, são cerca de 700 mil litros comercializados. Encaminhamos toda documentação solicitada para agilizar o trabalho e estamos dispostos a quaisquer outros esclarecimentos”, finalizou.
Rede Opção
O empresário e ex-vereador Nelson Lira, proprietário da rede de postos de combustíveis ‘Opção’, em João Pessoa, informou, a pedido de Valdir Trindade, que sua empresa detém 19 postos na capital. Em resposta ao questionamento do vereador sobre qual a margem obtida nos últimos meses, Nelson afirmou: “Somos a terceira empresa mais antiga no segmento. Hoje, empregamos cerca de 500 colaboradores. Isso é uma responsabilidade grande e faz com que percamos o sono no início do mês. Nossa margem bruta, hoje, varia, mas a ANP monitora e expõe essa informação no portal. Inclusive, fiz um levantamento e vi que João Pessoa, em janeiro, das 27 capitais brasileiras, ficou no 19º lugar da menor margem”. Sobre haver alguma parceria operacional em contrato de gestão conjunta com outros postos, o empresário negou a existência.
Jailma Carvalho indagou como ocorre a formação do preço final do combustível na Rede Opção e quais fatores mais influenciam nessa composição. Nelson explicou que é feito um acompanhamento diário, além de pesquisas para observar a concorrência. “Por mais que a gente queira colocar o preço que entendemos ser o justo para manter a saúde financeira da empresa, não conseguimos fazer isso, porque a concorrência está sempre com um preço inferior. Então, somos obrigados a fazer pesquisas e, dentro do possível, praticar o preço para perder esse volume. No entanto, tentamos ser muito criativos, como fizemos recentemente com o lançamento de um aplicativo da nossa Rede, através do qual temos parceria com outras empresas fora do segmento para oferecer ao consumidor que acumula pontos a possibilidade de trocas por ingressos de cinema, por exemplo”.
Jailma também quis saber se entre os 19 postos combustíveis da Rede Opção algum aderiu ao aumento de R$ 0,40. Nelson explanou: “Já no mês de julho, estávamos com a margem bem apertada. Quando a contabilidade apresentou o balancete para a gente, vimos que praticamente empatou. Então, percebi que se não fizesse um reposicionamento da margem ficaríamos ‘no vermelho’. No mês de setembro, por exemplo, já fechamos ‘no vermelho’ e outubro também, porque fizemos a reposição e o mercado não absorveu. Pela nossa política de preços, fomos obrigados a recuar. Quando a Petrobras anunciou uma redução de R$ 0,14 na gasolina A, como o produto que vendemos é a gasolina A com o anidro, obviamente que esse valor não chegou para as distribuidoras assim. Nós recebemos apenas R$ 0,03 de redução. Esse foi o motivo pelo qual no dia seguinte estive no Procon Municipal pedindo uma audiência, porque se dependesse de nós, não poderíamos repassar esse desconto, porque a margem já estava muito apertada”. Ainda em resposta a Jailma, Nelson negou a existência de qualquer acordo informal entre as empresas de postos.
Em seguida, o vereador Fábio Lopes quis saber se o empresário tinha conhecimento de infiltração do crime organizado; como é feito o monitoramento da concorrência; e o motivo que levou a Rede a aumentar o preço em agosto de 2025. O empresário negou ter conhecimento da infiltração do crime organizado, mas demonstrou preocupação com o tema: “No Piauí ocorreu [a infiltração] por causa de uma situação similar à que está acontecendo em João Pessoa, de uma margem muito apertada. Não tenho conhecimento, mas fico muito preocupado, em função da situação econômica que os postos vivenciam nos últimos anos, em João Pessoa. Até porque nós trabalhamos com um produto inflamável, que requer manutenções preventivas. Se não temos margem, corremos o risco de que isso não seja feito, o que leva a perigos. Por isso também que os preços das bombas ficam cada vez mais caros, porque os órgãos fiscalizadores exigem equipamentos cada vez mais caros”.
Sobre o aumento de R$ 0,40 em agosto de 2025, Nelson relatou que a margem da gasolina vinha caindo desde maio: de 16,4%, em maio, a margem caiu para 13%, em julho. “Os documentos que entreguei aqui mostram essa reposição de margem. Nós não tivemos nenhum ganho, apenas repusemos a margem, que precisou ser reposta pela saúde financeira da empresa. No início de agosto repusemos a margem que já praticávamos em abril. Não houve ganho e tivemos aumento de IPTU e energia. No nosso caso, o aumento não foi de R$ 0,40, mas, de R$ 0,30. Hoje, a margem está bem menos, em 11,9%. O mercado começou a baixar e nós tivemos que baixar também”.
Mikika Leitão perguntou se no caso de um posto vizinho baixar o preço, os postos da Rede Opção reduziriam para um valor igual ou inferior a ele. Nelson respondeu: “Para menos, nunca. Nós procuramos sempre manter uma boa estrutura do posto, boa iluminação, para gerar segurança, e oferecer benefícios por meio do aplicativo. Eu entendo que nós oferecemos mais benefícios ao consumidor. Nós não precisamos estar com o menor preço, mas, ter um preço competitivo”.
Ascom / CMJP


