Menores de idade faziam topless e participavam de festas com bebidas alcoólicas em um condomínio onde mora o influenciador paraibano Hytalo Santos, na cidade de Bayeux, Região Metropolitana de João Pessoa. Esses episódios ocorreram de acordo com o Ministério Público da Paraíba (MPPB). Investigam o influenciador pela exposição desses menores nas redes sociais.
A promotora Ana Maria França, uma das responsáveis pelo inquérito, disse que vizinhos do condomínio de Hytalo Santos fizeram as denúncias sobre esses episódios. A partir disso, o MP começou as investigações no final de 2024.
“Até tarde da noite havia muitos eventos atrapalhando o sono dos condôminos, [como] transitar dentro do condomínio com adolescentes fazendo topless na moto para exibir tatuagem nas costas, festas regadas com bebidas alcoólicas. Então, foi a partir daí que começou nossa apuração”, disse a promotora.
A Justiça atendeu nesta terça-feira, 12 de agosto, o pedido do MP e mandou bloquear as contas de Hytalo Santos nas redes sociais. Além disso, proibiu-o de ter contato com os adolescentes citados nas investigações. A promotora Ana Maria França assinou uma ação civil pública para pedir à Justiça o bloqueio das contas de Hytalo Santos nas redes sociais.
Justiça determina que conteúdos de Hytalo Santos sejam desmonetizados
Os conteúdos postados por Hytalo nas redes sociais devem ser desmonetizados por determinação da Justiça. Ou seja, não podem gerar dinheiro para o influenciador, segundo a decisão judicial desta terça.
O MP confirmou que ouviram Hytalo Santos em Bayeux no dia 30 de maio de 2025. As vítimas se ouviram “por questões de evitar revitimização”. Isto ocorre porque já haviam as interrogado em outro processo do Ministério Público em João Pessoa, que também trata da exposição de menores.
➡️ O termo “revitimização” se refere à situação em que a vítima tem de reviver a lembrança da violência durante o processo judicial ou administrativo.
Conforme o promotor João Arlindo, da promotoria da capital, também ouviram o influenciador no outro braço do processo. Durante seu depoimento, ele negou as acusações.
Redes Sociais
Desde a sexta-feira, 8 de agosto, a conta do influenciador no Instagram está fora do ar. Isto ocorreu após o humorista Felca ter denunciado suposta exploração de menores de idade feita pelo paraibano.
Ainda conforme o MP, o órgão não foi responsável inicial pela suspensão da conta do influenciador. Todavia, após o ocorrido, solicitou que a medida fosse mantida e ampliada para outras redes sociais.
A reportagem também entrou em contato com o Google, dono do YouTube. A empresa informou por meio de assessoria que não se intimou sobre a decisão. No entanto, já vem tomando uma série de medidas relacionadas ao canal do influenciador, entre elas a desmonetização total dos vídeos. Também atua sobre conteúdos específicos que feriram as diretrizes da plataforma, realizando a remoção de vídeos e a restrição de acesso a determinados vídeos apenas para maiores de idade.
O TikTok informou, em nota, que um perfil do influenciador foi banido em 2025 pela segunda vez. Em 2023, já haviam tirado uma outra conta do ar. A empresa não forneceu mais detalhes.
A reportagem entrou em contato com a defesa de Hytalo Santos, que não respondeu até a última atualização dessa reportagem.
A conta de Kamylinha Santos, de 17 anos, que participa dos vídeos do Hytalo Santos, também se desativou. Segundo a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda, foi o motivo do bloqueio tratar-se de uma menor de idade fazendo publicidade de casas de aposta.
No vídeo da denúncia do influenciador Felca, ela aparece como um dos principais exemplos de adultização e sexualização de menores. A influenciadora começou a gravar vídeos de dança com Hytalo Santos quando ainda era criança e foi adotada por ele aos 12 anos.
Influenciador dava celulares e pagava aluguel de casas, diz MP
Hytalo Santos dava celulares, pagava aluguel de casas e também a mensalidade de colégios para familiares de menores que apareciam em “reality” nas redes sociais.
Ao g1, um dos promotores do caso, João Arlindo Côrrea, informou que o MP investiga um possível esquema de benefícios para familiares dos menores. Em troca, houve emancipação dos adolescentes que participavam desses vídeos. Essa possibilidade foi levantada a partir de depoimentos durante o processo.
“O que ele fazia não necessariamente era em relação à criança. ‘Olha, o senhor emancipa o adolescente que eu vou custear o colégio da pessoa, etc’, não. Mas, por exemplo, há informes de que ele dava iPhones, alugava casa (para os familiares)…”, ressaltou.
O promotor explicou também que a investigação tenta descobrir se existe alguma relação entre os “presentes” e o fato de alguns adolescentes terem conseguido a emancipação para aparecer nos vídeos. Mas, segundo ele, fazer essa conexão é “difícil”. Dificulta principalmente devido à anuência dos responsáveis.
Conforme o promotor, cerca de 17 adolescentes menores de idade participam desses vídeos produzidos por Hytalo Santos. O promotor disse que conseguiu ouvir grande parte deles durante o processo e que os ouvidos eram todos emancipados.
O MP também investiga os pais dos adolescentes que apareciam nos vídeos de Hytalo Santos. De acordo com a promotoria, os responsáveis podem ter se omitido na proteção dos filhos. Caso as denúncias sejam confirmadas, pode-se configurar responsabilidade pela exposição indevida e pelos danos causados aos menores.