O uso do celular antes dos 13 anos está associado a impactos negativos na saúde mental de pré-adolescentes, segundo um estudo global com quase 2 milhões de pessoas.
A pesquisa, publicada no Journal of the Human Development and Capabilities, mostrou que quanto mais cedo uma criança tem acesso a smartphones, maior o risco de desenvolver pensamentos suicidas, distanciamento da realidade, baixa autoestima e dificuldades na regulação emocional.
O levantamento analisou dados de jovens adultos que tiveram o primeiro contato com smartphones durante a infância.
Como o uso do celular pode afetar a saúde mental?
De acordo com o estudo, jovens que receberam smartphones antes dos 13 anos apresentam:
- Pensamentos suicidas;
- Dificuldades para lidar com emoções;
- Baixa autoestima e autoconfiança;
- Sensação de desconexão da realidade.
A pesquisa mostrou que meninas que receberam o celular aos 5 ou 6 anos relataram 48% mais pensamentos suicidas do que as que receberam aos 13 anos. Entre meninos, a diferença foi de 31% para 20%.
O levantamento é global e os efeitos foram identificados em todas as regiões analisadas, sendo mais intensos em países de língua inglesa.
“Hoje, 41% dos jovens de 18 a 34 anos lutam com sintomas ou funções diminuídas que prejudicam significativamente sua vida diária […] Quando crianças apresentam essa magnitude e gravidade de sofrimento mental e funcionamentos diminuídos, a intervenção não deve esperar”, afirma Tara Thiagarajan, fundadora do Sapien Labs, organização responsável pelo estudo.
Celular é o único culpado por afetar a saúde mental de jovens?
O estudo mostra que o uso precoce de celulares está ligado a impactos na saúde mental, mas não é apenas o aparelho que causa esses efeitos. Os pesquisadores identificaram quatro fatores principais que explicam como o acesso precoce a smartphones afeta crianças e pré-adolescentes:
- Acesso a redes sociais: é responsável por cerca de 40% da associação entre idade de uso e saúde mental. As redes sociais expõem crianças a conteúdos algorítmicos que podem interferir no desenvolvimento emocional e social.
- Sono interrompido: usar smartphones em horários inadequados ou por muito tempo atrapalha o sono, mas apenas 19% desse impacto está ligado ao uso das redes sociais, mostrando que outras atividades digitais também contribuem.
- Cyberbullying: comentários agressivos e exposição a situações de assédio online são fatores importantes. Eles representam 10% do efeito global, sendo em grande parte decorrentes do acesso precoce às redes sociais.
- Relações familiares fragilizadas: crianças que começam a usar smartphones mais cedo tendem a ter vínculos familiares menos estáveis, o que responde por 13% do impacto observado na saúde mental.
“Isso exige uma ação urgente que limite o acesso de crianças, bem como uma regulamentação mais rigorosa sobre o ambiente digital ao qual os jovens estão expostos”, destacou Thiagarajan.
Ou seja, para ficar mais fácil de compreender, o levantamento deixa claro que o celular por si só não explica todos os problemas. O impacto na saúde mental acontece principalmente quando o dispositivo é usado para acessar redes sociais, combinado com sono interrompido, cyberbullying e relações familiares fragilizadas.
Além disso, o estudo mostra que, se o uso do celular antes dos 13 anos continuar sendo comum, quase um terço da próxima geração pode apresentar dificuldades emocionais graves e diminuição da autoconfiança.
Recomendações do estudo
Diante dos resultados, os pesquisadores defendem medidas de proteção semelhantes à regulamentação do álcool e do tabaco. Entre as propostas estão:
- Educação digital obrigatória para crianças e adolescentes, incluindo orientações sobre cyberbullying e uso seguro de plataformas;
- Restrições de acesso a redes sociais para menores de 13 anos, com fiscalização efetiva por parte das empresas;
- Acesso gradual a smartphones, oferecendo aparelhos limitados para funções básicas e educativas, sem conexão irrestrita à internet;
- Responsabilidade corporativa das plataformas digitais, garantindo que respeitem limites etários e promovam ambientes seguros.
Vale destacar que, embora o estudo seja amplo e global, os autores lembram que ele mostra associação, não causa direta. Também não foi possível controlar tempo de uso ou conteúdo acessado na infância. Mesmo assim, os impactos observados reforçam a necessidade de precaução em políticas públicas.
Jornal da Paraíba