Os Correios apresentaram nesta segunda-feira, 29, um plano abrangente de reestruturação para o período de 2025 a 2027. Em coletiva de imprensa, o presidente da estatal, Emmanoel Rondon, detalhou uma estratégia dividida em três fases que combina socorro financeiro imediato, ajustes estruturais duros e, no horizonte mais longo, uma revisão do próprio modelo de negócios da empresa.
A urgência do plano é ditada pelos números. Entre janeiro e setembro, os Correios acumularam prejuízo de R$ 6 bilhões, quase o triplo do resultado negativo registrado no mesmo período do ano passado, de R$ 2,1 bilhões. Enquanto as receitas caem nos segmentos tradicionais, os custos operacionais, previdenciários e judiciais continuam pressionando o caixa. As despesas com pessoal representam, sozinhas, cerca de 62% dos gastos fixos da empresa.
Primeira fase: reforço de liquidez e captação de recursos
A primeira fase do plano, já em execução, tem caráter emergencial e busca garantir a sobrevivência financeira da empresa no curto prazo. O eixo central é a recuperação de liquidez e a estabilização da operação. Na sexta-feira anterior à coletiva, os Correios concluíram uma operação de crédito de R$ 12 bilhões com um sindicato de cinco bancos: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco, com R$ 3 bilhões cada, e Itaú e Santander, com R$ 1,5 bilhão cada. O plano de reestruturação parte de uma necessidade total de financiamento de cerca de R$ 20 bilhões. Com a captação de R$ 12 bilhões já concluída, permanece uma lacuna de aproximadamente R$ 8 bilhões. Segundo Rondon, o contrato prevê que essa necessidade remanescente será tratada por meio de mecanismos de garantia que envolvem o Tesouro Nacional e a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), dentro da capacidade e das necessidades da companhia. “No entanto, a forma de composição desses R$ 8 bilhões, se por meio de aporte direto ou de uma nova operação de crédito, ainda será avaliada ao longo de 2026”, disse.
O financiamento, voltado ao capital de giro, prevê desembolso de R$ 10 bilhões ainda em 2025 e de R$ 2 bilhões em janeiro de 2026. Segundo Rondon, a operação foi fechada apenas após três rodadas de negociação, com redução do valor inicialmente buscado, de R$ 20 bilhões, para garantir taxas mais alinhadas às referências do Tesouro Nacional. “Essa operação nos permite honrar contratos com fornecedores, pagar benefícios aos empregados e tributos e recuperar a qualidade da operação”, afirmou o presidente. Paralelamente, foi criado um grupo de trabalho dedicado exclusivamente à melhoria operacional, com foco em elevar o nível de serviço, reconquistar clientes e estancar a perda de receita. Essa fase inicial tem duração estimada de três meses, de janeiro até março.
Segunda fase: reorganização interna e redução de custos
A segunda fase, prevista para os anos de 2026 e 2027, concentra as medidas mais sensíveis e estruturais. O objetivo é duplo: reduzir de forma permanente a base de custos da empresa e, ao mesmo tempo, reforçar o caixa por meio da monetização de ativos e ganhos operacionais.
O principal eixo dessa etapa é a reabertura do Programa de Demissão Voluntária (PDV). O plano prevê a saída de até 15 mil empregados: 10 mil em 2026 e outros 5 mil em 2027. A estimativa da empresa é de uma economia anual de R$ 1,4 bilhão a partir de 2027, com retorno do investimento em cerca de nove meses. Em 2026, no entanto, o impacto líquido tende a ser limitado, já que os custos iniciais do programa compensam os ganhos no curto prazo.
Além do PDV, os Correios vão revisar cargos de média e alta remuneração em toda a estrutura. Também está prevista a reformulação dos planos de saúde e previdência, com foco na redução do impacto atuarial e dos custos administrativos. Apenas no plano de saúde, a economia projetada é de cerca de R$ 700 milhões anuais a partir de 2027. O pacote inclui ainda a renegociação de passivos judiciais, com o objetivo de reduzir o ritmo de crescimento das provisões e trazer maior previsibilidade ao balanço.
A estatal também vai usar automação e novos sistemas logísticos para enxugar a rede física. A estratégia inclui fechar centros de tratamento e agências deficitárias, eliminar rotas duplicadas e concentrar operações, mantendo o nível de serviço com menos estrutura.
Paralelamente aos cortes de despesas, a estatal também prevê medidas voltadas à geração de caixa. A principal delas é a gestão ativa de ativos imobiliários. Após uma revisão completa da carteira, a estatal planeja a venda de imóveis ociosos e a realização de operações de sale and leaseback. A expectativa é arrecadar cerca de R$ 1,5 bilhão em 2026, além de reduzir despesas recorrentes com manutenção e ocupação.
Somadas, as medidas de redução de custos dessa fase devem gerar uma economia da ordem de R$ 5 bilhões até 2028.
Terceira fase: revisão do modelo de negócios e possíveis arranjos societários
A terceira fase do plano olha além do ajuste fiscal e operacional. O objetivo é reposicionar os Correios para um novo ciclo de crescimento no médio e no longo prazo. Para isso, a estatal está contratando uma consultoria externa que irá avaliar alternativas de modelo de negócios e possíveis arranjos societários.
Hoje, a empresa está organizada em três níveis: a unidade estratégica (sede), as unidades táticas (superintendências) e as unidades de execução, que incluem centros logísticos, unidades operacionais e agências. Segundo Rondon, o estudo deverá indicar quais formatos permitem ampliar parcerias, inclusive societárias, respeitando o papel público da empresa. Ele foi enfático ao afirmar que não há decisão tomada nem proposta pronta. “Existem exemplos internacionais de empresas de economia mista que funcionaram e outros que não. O que queremos é entender o que faz sentido para os Correios, dada a nossa realidade”, disse. O debate sobre sociedade mista e parcerias estruturais está aberto, mas ainda em fase exploratória.
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