A Polícia Federal encontrou maços de dinheiro escondidos dentro de um sapato na casa do vereador Francisco Nascimento (União), conhecido como “Francisquinho”, durante cumprimento de mandados da quinta fase da Operação Overclean, realizada nesta quinta-feira (17). Francisco é primo do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) e é investigado por envolvimento em um esquema de fraudes em licitações com recursos oriundos de emendas parlamentares.
O vereador de Campo Formoso (BA) já havia sido preso em 2023, quando tentou se desfazer de R$ 220 mil jogando uma sacola com dinheiro pela janela durante uma operação da mesma investigação.
A ofensiva desta quinta-feira incluiu 18 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Francisquinho, ao prefeito de Campo Formoso, Elmo Nascimento — irmão de Elmar —, ao ex-assessor parlamentar Amaury Albuquerque Nascimento e ao ex-presidente da Codevasf, Marcelo Moreira.
Segundo a PF, a investigação aponta um conluio entre o vereador Francisco, empresários da Allpha Pavimentações — Fábio e Alex Parente — e o pregoeiro Márcio Freitas dos Santos para fraudar licitações da prefeitura de Campo Formoso. Mensagens trocadas entre os envolvidos mostram que os empresários tinham acesso prévio aos detalhes dos certames e recebiam informações em tempo real sobre propostas concorrentes. Em uma dessas conversas, Francisco afirmou: “Eu tirei uma, e o pregoeiro outra”, referindo-se à desclassificação de empresas rivais.
Os contratos sob suspeita envolvem recursos da Codevasf oriundos de emendas do relator, o chamado “orçamento secreto”, repassadas por Elmar Nascimento. Só em 2023, a Allpha Pavimentações recebeu R$ 56,9 milhões da prefeitura de Campo Formoso.
Outro elo investigado é Marcelo Moreira, ex-presidente da Codevasf, apontado como possível articulador do favorecimento à empresa. Em maio deste ano, o ex-superintendente da Codevasf em Juazeiro, Miled Cussa Filho, relatou ao UOL ter sofrido pressão de Moreira ao colaborar com as investigações.
A PF também investiga uma planilha que indica o repasse de R$ 493 mil a Amaury Nascimento, então assessor de Elmar, em 2023. Os investigadores suspeitam que os valores se refiram ao pagamento de propina. O caso foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, em razão do foro privilegiado do deputado.
Francisco Nascimento havia sido preso preventivamente, mas foi solto no final do ano passado.
Outro lado
A reportagem procurou o gabinete do deputado Elmar Nascimento, a Prefeitura de Campo Formoso e a defesa de Francisco Nascimento, mas ainda não obteve resposta. A Codevasf declarou que “mantém compromisso com a elucidação dos fatos e com a integridade de suas ações, e continuará a prover suporte integral ao trabalho das autoridades policiais e da Justiça”.