Javier Milei e Donald Trump- Reprodução/ embaixada dos EUA na Argentina
As tarifas recíprocas distribuídas por Donald Trump a dezenas de parceiros comerciais começam a valer a partir de quinta-feira (7), com piso de 10% e teto de 41%.
O Brasil aparece na lista com a base, mesmo valor anunciado em abril, no Dia da Libertação.
Na última quarta-feira (30), porém, o presidente dos Estados Unidos confirmou, já considerando esta taxa base, que iria subir em 40 pontos percentuais a tarifa aplicada contra os importados brasileiros, totalizando 50%.
Os vizinhos sulamericanos tiveram, por outro lado, um tratamento diferente.
De todos os países da América do Sul, além do Brasil, somente Bolívia, Guiana e Venezuela tiveram taxas acima do piso, todas de 15%, conforme a ordem executiva assinada por Trump na noite de quinta-feira (31).
A base de 10% é direcionada a países com os quais os EUA mantêm superávit na balança comercial, ou seja, vendem mais do que importam. Já a alíquota de 15% é a base para nações que mais vendem para os norte-americanos do que importam deles.
Entre os contemplados pela alíquota mínima, a Argentina.
Milei fechado com Trump, Lula isolado
Sob Javier Milei, los hermanos estreitaram os laços com os EUA, sobretudo olhando para a figura de Donald Trump como um aliado.
Mesmo antes do republicano voltar à Casa Branca, o presidente argentino já defendia pautas ideológicas e comerciais semelhantes às do norte-americano em organismos internacionais.
Em 2024, a balança comercial entre os dois países mostrou leve vantagem para Washington, com superávit de US$ 275,4 milhões contra Buenos Aires, segundo dados do Mercosul. O saldo é resultado de US$ 4,56 bilhões em exportações argentinas e US$ 4,83 bilhões de produtos importados dos EUA.
Petróleo cru, pérolas e pedras preciosas e alumínio e seus manufaturados são os três principais itens da lista de vendas da Argentina aos EUA. Por outro lado, itens ligados à gás natural estão entre as maiores importaçõe
Enquanto isso, os EUA colheram com o Brasil um saldo ainda mais positivo para a parte de lá: superávit de US$ 283,8 milhões em 2024. Ainda assim, os produtos tupiniquins vão entrar com a maior alíquota aplicada por Trump por conta da sobretaxa.
A questão de Washington com o governo Lula extravasa o comercial. Nota-se ao olhar para o título do decreto assinado por Trump, no qual confirmou a tarifa de 50%: “Enfretando as ameaças aos Estados Unidos pelo governo do Brasil”.
“Políticas, práticas e ações recentes do Governo do Brasil ameaçam a segurança nacional, a política externa e a economia dos Estados Unidos. Membros do Governo do Brasil tomaram medidas que interferem na economia dos Estados Unidos, infringem os direitos de livre expressão de cidadãos dos Estados Unidos, violam os direitos humanos e minam o interesse dos Estados Unidos em proteger seus cidadãos e empresas”, escreveu Trump no decreto.
“Membros do Governo do Brasil também estão perseguindo politicamente um ex-presidente do Brasil [Jair Bolsonaro], o que está contribuindo para o colapso deliberado do Estado de Direito no Brasil, para a intimidação politicamente motivada naquele país e para abusos de direitos humanos.”
Após o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinar que Bolsonaro deveria utilizar a tornozeleira eletrônica, Trump revogou o visto do magistrado e de seus aliados, e mais recentemente aplicou a Lei Magnitsky contra ele, que levanta sanções financeiras ao atingido.
Antes mesmo dos movimentos das últimas duas semanas, o presidente dos EUA já havia expressado seu descontentamento com o Brasil quando anunciou a tarifa de 50%, no dia 9 de julho: na ocasião, disse que “o Brasil não tem sido bom para nós” e apontou criticamente para a regulação das big techs no país e o julgamento contra o ex-presidente pela suposta trama golpista.
Além disso, o republicano reiteradamente se manifestou contra pautas defendidas pelo Brasil junto do Brics de buscar consolidar um sistema financeiro internacional alternativo e mais inclusivo aos países emergentes, que evite o uso do dólar.
Nesse meio tempo, Milei buscou cultivar o laço com o presidente dos Estados Unidos, consequentemente se afastando de seus pares sulamericanos.
Apesar de ter participado da conclusão do acordo histórico entre o Mercosul e a União Europeia, o presidente da Argentina é crítico à “burocracia excessiva” do bloco e acredita que “só o que fez desde sua criação foi enriquecer os grandes industriais brasileiros, às custas de empobrecer os argentinos”. Em março, ameaçou tirar a segunda maior economia da América do Sul do grupo. Em paralelo, Milei tem sinalizado o interesse em construir um acordo de livre comércio com os Estados Unidos.
A proximidade do argentino com o norte-americano e a resistência ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi compartilhada por Milei nas redes sociais em novembro após encontro na Cúpula do G20.
A publicação compara o líder argentino sorridente ao lado de Trump, enquanto aparece com expressão séria ao lado do petista. A legenda da foto diz: “Com a direita // com a esquerda”.
Em meio ao tarifaço, Milei chegou a insinuar que o Brasil deveria agradecer à Argentina por não ter sido atingido, num primeiro momento, por uma alíquota mais elevada.
Hoje, enquanto contempla a menor das tarifas aplicadas por Trump, a Argentina avalia que há uma chance de despontar no comércio exterior com a sobretaxa aplicada ao Brasil, apesar de temer um desvio de exportações.
Enquanto isso, o governo Milei anunciou que irá conceder cidadania a grandes investidores estrangeiros no país, uma postura que, segundo o Ministério da Economia argentino, irá considerar “protocolos e padrões de segurança de terceiros países”, como os do programa de isenção de vistos dos Estados Unidos.
CNN BRASIL