Assim cantou, com alma nordestina, o nosso saudoso Luiz Gonzaga. E eu assino embaixo.
Quem cresceu no interior — ou andou pelas terras secas do Nordeste — sabe o quanto o jumento foi parte da nossa vida. Não era apenas um animal: era companheiro de lida, de jornada, de esperança. Carregava água, lenha, alimento… E, muitas vezes, era o único “motor” que havia para vencer as distâncias e a seca.
Com o tempo, ele foi ficando de lado. Vieram as motos, os carros, os burros-mulos de mais porte e força. E o jumento — símbolo de resistência — foi sendo deixado para trás. Antes, eram milhões soltos pelas estradas e roçados. Hoje, são tão poucos que dá vontade de chorar.
E aí vem o mais triste: quando o homem deixou de valorizá-lo, outros passaram a vê-lo com outros olhos. Os chineses, espertos e estratégicos, enxergaram nele algo que nós esquecemos — um recurso valioso.
Da pele do jumento extraem uma substância chamada ejiao, usada em medicamentos e gelatinas medicinais na China. Resultado? Começaram a comprar nossos jumentos a preços baixíssimos — muitos já abatidos — e a exportação explodiu. Só o Brasil perdeu 94% do seu rebanho.
E não é só aqui: países como Quênia, Tanzânia e Nigéria já criaram leis para conter essa devastação. Eles perceberam que estavam prestes a perder um patrimônio vivo.
Enquanto isso, em algumas cidades chinesas, como Hebei e Shandong, a carne de jumento virou prato típico. Um huō tuǐ pode custar até R$ 60.
E eu pergunto: até onde vamos deixar isso continuar?
Amigos chineses, com todo respeito: tenham misericórdia dos nossos jumentos.
Esse animal, simples e sofrido, serviu gerações inteiras. É símbolo da nossa história. E, para nós que cremos, tem até um papel especial: foi montado por Jesus na entrada triunfal em Jerusalém.
Por isso, oro com fé e escrevo com esperança:
Senhor Jesus, ajuda-nos a preservar essa criatura tão útil, tão esquecida e tão injustamente explorada.
Com o coração apertado, mas cheio de gratidão por tudo que esse animal representa,
Elcio Nunes
Cidadão Brasileiro