O ministro da Agricultura do Japão, Taku Etō, viu-se forçado a renunciar nesta quarta-feira (21/5) depois de declarar que nunca compra arroz, porque o recebe como presente, em meio às dificuldades enfrentadas pela população com a elevação do preço desse alimento, muito usado na culinária japonesa.
No lugar de Taku Etō, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba nomeou o ex-ministro do Meio Ambiente Shinjiro Koizumi, filho de um ex-primeiro-ministro, para liderar a pasta da Agricultura.
Os partidos da oposição haviam ameaçado apresentar uma moção de censura contra o governo se o ministro Taku Etō não renunciasse nesta quarta-feira. Etō foi o primeiro ministro a renunciar no governo de Ishiba, que começou em outubro e não tem maioria parlamentar.
A renúncia é mais um revés para o governo de Ishiba, cuja taxa de aprovação se mantém no nível mais baixo desde que assumiu o cargo, em 2024. Eleições legislativas serão realizadas em julho, e elas podem determinar o futuro do governo.
Fora da realidade
O comentário de Etō, que muitos japoneses consideraram fora de sintonia com a realidade econômica, foi feito no domingo, num seminário do Partido Liberal Democrata (PLD), que lidera um governo em dificuldades.
Na cidade de Saga, no sudoeste do Japão, Etō disse que nunca compra arroz porque recebe muito de apoiadores. “Nunca comprei arroz para mim mesmo. Francamente, meus apoiadores me dão bastante arroz. Tenho tanto arroz na minha despensa que poderia até vender.”
Mais tarde, Etō admitiu que o comentário foi um erro e disse que havia comprado arroz na semana anterior num supermercado, acrescentando que a declaração “era inapropriada para aqueles que estão com dificuldades em adquiri-lo”.
“Fiz um comentário extremamente inapropriado numa altura em que os consumidores estão lutando contra o aumento dos preços do arroz”, afirmou depois de entregar a renúncia.
Alimento básico tradicional
O preço do arroz, alimento básico no Japão, duplicou na comparação com um ano atrás, obrigando os restaurantes e os consumidores a procurarem alternativas e o governo a liberar parte das reservas nacionais para tentar estabilizar os preços. Porém, estatísticas do Ministério da Agricultura mostram que a medida causou pouco impacto.
Em abril, o Japão importou arroz da Coreia do Sul pela primeira vez em um quarto de século, na tentativa de lidar com a crescente insatisfação dos consumidores.
A escassez começou em agosto passado com compras por pânico após um alerta do governo sobre um possível grande terremoto. A pressão sobre a oferta diminuiu após a colheita do outono japonês, mas a escassez e os aumentos de preços voltaram a ocorrer no início deste ano.
Autoridades atribuíram a escassez de oferta às colheitas ruins devido ao clima quente em 2023 e aos altos custos de fertilizantes e outros custos de produção, mas alguns especialistas culpam a política de produção de arroz de longo prazo do governo.
O Japão criou as reservas nacionais de arroz em 1995, após uma grave escassez do produto dois anos antes, devido a um verão excepcionalmente frio. Por ano, o governo armazena cerca de 200 mil toneladas para garantir mantimentos de emergência.
A demanda japonesa por arroz diminuiu nas últimas décadas, à medida que a dieta da população se diversificou, mas o arroz continua sendo um alimento básico e parte integrante da cultura e história japonesas.
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