
Jim KerrCantor e líder do Simple Minds
Muitas bandas colecionam hits, sucessos, temas famosos – chame como quiser –, mas pouquíssimas ostentam no currículo hinos que definiram uma era e se tornaram maiores que a vida. E o Simple Minds é uma delas, graças ao clássico inesquecível Don’t You (Forget About Me), lançado em 1985.
No entanto, a banda fundada em 1977 por Jim Kerr e Charlie Burchill inicialmente se recusou a gravar a faixa, composta pelo produtor Keith Forsey e o guitarrista Steve Schiff para a trilha sonora do filme Clube dos Cinco (1985). Bryan Ferry e Billy Idol, outros nomes em alta naquela década, também declinaram a oferta.
Pressionados pela gravadora para atingir o mercado dos EUA e com o incentivo de Chrissie Hynde, líder do Pretenders e então esposa de Kerr, os escoceses refletiram por alguns meses até aceitar a proposta e finalmente eternizar o registro. O resto é história. No Spotify, o hit dançante e melancólico já ultrapassou 1 bilhão de reproduções e, no Youtube, o clipe já foi acessado mais de 320 milhões de vezes.
Jim Kerr, do Simple Minds, fala ao ‘Estadão’ sobre o maior hit da banda
Grupo escocês se apresenta em SP no dia 4 de maio
Em entrevista ao Estadão, por videoconferência, o cantor e líder do grupo relembrou o sucesso da canção, a força dos anos 80 e sua primeira visita ao Brasil em 1988 para o festival Hollywood Rock. Naquele ano, o Simple Minds participou de um show especial, no estádio de Wembley, em celebração aos 70 anos de Nelson Mandela, também homenageado na música Mandela Day. As ações fizeram parte do movimento que condenava o apartheid e pedia a libertação do político sul-africano, preso por seu ativismo.
O conjunto pós-punk virá ao País pela 5ª vez para um show único que será realizado em São Paulo, no Espaço Unimed, em 4 de maio. Outra apresentação no Rio chegou a ser anunciada para o dia 3, mas teve que ser cancelada (por “questões logísticas”, segundo a produtora responsável) devido ao espetáculo de Lady Gaga na Praia de Copacabana, marcado para o mesmo dia.

Jim Kerr, vocalista do Simple Minds, fotografado na primeira visita do grupo escocês ao Brasil, em 1988 Foto: Andre Douek/Acervo Estadão
Jim, você ainda vive na Itália, certo?
Sim, eu amo.
Como tem sido isso para um escocês?
Eles parecem não se importar de eu estar lá, é sempre bom ter uma ótima recepção. Eu também amo a Escócia. Fui pela primeira vez para a Itália em uma viagem escolar quando tinha apenas 13 anos, e já tinha a sensação naquela época de que acabaria morando lá.
Fiquei surpreso que vocês cancelaram o show no Rio por causa do enorme evento da Lady Gaga em Copacabana. Como você lidou com isso?
Obviamente estamos decepcionados. Quer dizer, não tinha nada a ver conosco pessoalmente. Isso é algo para os promotores, e eu acho que é um evento monumental que vai acontecer na cidade. Foi má sorte para os fãs do Simple Minds, má sorte para nós. Será maravilhoso, como sempre é, ir a São Paulo. Mas quando você pensa no Brasil, você pensa, certamente, em São Paulo, Rio, Curitiba, tantos outros lugares. Vamos ter que realmente fazer de São Paulo algo especial. Nós sempre damos 100%, mas agora temos que dar 200%.
Vocês estiveram no Brasil algumas vezes. O que se lembra da primeira visita, em 1988?
Eu me lembro da emoção de estar aí. Ainda é a mesma emoção, porque certamente, crescendo em Glasgow, tínhamos a ideia do Brasil como essa terra distante. E muitos anos depois, formamos nossa banda, e então descobrimos que teríamos a chance de tocar lá, que as pessoas abraçariam a música. Agora é difícil imaginar fazer uma turnê mundial e não tocar no Brasil. Mas também quando você pensa como a noção do Brasil mudou em todos esses anos desde que crescemos, o perfil do Brasil como País, geopoliticamente e tudo mais, houve tantas mudanças. Quando éramos crianças, era sobre duas coisas: o futebol e a Amazônia. Agora, certamente nos países em que estou, raramente se pega um jornal onde não haja alguma menção ao Brasil, uma história sobre o Brasil ou algo sobre um grande problema no Brasil.
Simple Minds, Simply Red, The Pretenders e outras bandas icônicas dos anos 80 estão vindo para o Brasil praticamente no mesmo período. O que há de tão especial nos anos 80 que ressoa tanto com as pessoas hoje?
Isso é mais para as pessoas. Não sou um vendedor dos anos 80. Sou um vendedor do Simple Minds. Mas certamente, essa é a nossa geração. Havia uma chave que trouxe a música para muitos desses lugares que era a MTV. A MTV foi quando você poderia realmente ver o álbum e não apenas escutar. Essa foi a geração, de certa forma pós-punk, que voltou à composição. Os anos 80 tinham muito glamour e você tinha muitos grandes personagens. Quando você pensa na singularidade de pessoas como Boy George, Morrissey, Robert Smith do The Cure, e assim por diante. Bandas celtas emergindo, U2, Simple Minds. Éramos todos de uma geração. Todos nós ainda estávamos no início dos 20 anos. Acho que tínhamos muito desejo, muita imaginação e um tipo de música com sonoridade positiva.
É claro que vocês tiveram muitos hits. ‘Alive and Kicking’ é um hit, ‘Belfast Child’ é um hit, mas ‘Don’t You (Forget About Me)’ é como um hino. É muito mais do que um hit. Foi algo monumental para os anos 80. Vocês se sentiram presos pela música ou tiveram medo de nunca mais ter um sucesso como esse?
Não, eu acho que a única dificuldade que tivemos com ela foram algumas ressalvas antes do lançamento. Mas uma vez que fizemos, não tivemos mais ressalvas. No dia seguinte estávamos trabalhando em Alive and Kicking, no álbum Once Upon a Time (1985). Acho que fomos inteligentes o suficiente para ver que às vezes é apenas um momento no tempo. Se tivesse sido um ano antes ou um ano depois, a música não teria sido um sucesso tão grande. Você tem que pensar sobre o que estava acontecendo na época com a música. Tinha a MTV começando a tocar Simple Minds. Algumas semanas depois, você tinha o Live Aid [onde a banda apresentou a música pela primeira vez ao vivo], o maior concerto do mundo. Tinha o filme Clube dos Cinco. Não foi apenas a música. A música teve muitos motores preparando-a. Nenhuma das outras músicas tinha todos esses outros elementos. Nós só tivemos que ser gratos por, antes de tudo, estar associados a uma canção que deu a tantas pessoas tanto prazer. Mas vamos dizer que os verdadeiros fãs do Simple Minds querem ouvir New Gold Dream, Sparkle in The Rain, Street Fighting Years…
Eu adoro ‘Waterfront’…
Eu também. Engraçado, porque parece que algumas pessoas foram convidadas para fazer Don’t You (Forget About Me). Hoje no [jornal] La Repubblica, da Itália, há uma entrevista com Bryan Ferry. Ele diz: ‘me ofereceram para fazê-la, mas eu estava ocupado fazendo meu outro álbum. De qualquer forma, o Simple Minds fez. Eles fizeram uma ótima versão. Não me arrependo, mas eu estaria muito mais rico se tivesse feito’. Foi o que ele disse e, claro, você pode me escutar rindo.
Vocês participaram do show-tributo ao Nelson Mandela e também fizeram uma música sobre ele. Por que esse homem foi tão importante na sua vida?
Quando eu penso no passado, em entrevistas anteriores, vejo que não usamos realmente a palavra ‘profissionais’ muito frequentemente. Nós realmente não usamos essa palavra tanto assim. Mas fico contente que tenhamos sido profissionais para iluminar a luta pelo fim do apartheid, e clamando pela libertação de Nelson Mandela. Nós desempenhamos um pequeno papel ao trazer isso à atenção [do público]. Tive a chance de encontrá-lo, de falar com ele duas ou três vezes. Certamente na minha vida, eu não acho que haverá outro político tão admirado e tão amado quanto Nelson Mandela.
Quero te perguntar sobre a Chrissie Hynde, mas é uma questão artística. Não quero saber sobre seu antigo casamento. É apenas uma dúvida, porque gosto das duas bandas. Você já conversou com ela sobre cantar em um disco do Pretenders, ou ela cantar em um disco do Simple Minds?
Ainda peço a ela, talvez a cada dois anos peço para ela colaborar comigo. Ela colaborou com todo mundo neste maldito mundo, menos comigo (risos). Mas talvez, se você falar com ela, você possa perguntar.
Se eu tiver a chance de entrevistá-la, eu pedirei: ‘Por favor, faça uma música com o Jim!’
Dê uma chance ao Jim…

Simple Minds faz show em SP no dia 4 de maio Foto: Divulgação/Mercury Concerts
Simple Minds – Global Tour 2025
- Quando: 4 de maio de 2025
- Onde: Espaço Unimed (R. Tagipuru, 795)
- Ingressos: eventim.com
- Preços: R$ 390 a R$ 800