O segundo semestre de 2025 ficou marcado pelo aumento da pressão de Donald Trump contra Nicolás Maduro, agora classificado pelos Estados Unidos como o chefe de um cartel de drogas venezuelano.
Depois de uma reeleição conturbada e contestada pela comunidade internacional, Maduro tomou posse da presidência da Venezuela em 10 de janeiro. No mesmo dia, o governo dos EUA, naquela época ainda comandada pelo democrata Joe Biden, aumentou a recompensa por informações que levassem à captura do líder chavista para US$ 25 milhões (cerca de R$ 150 milhões).
Decisão que Trump tomou como exemplo no que seria o início da ofensiva contra o herdeiro político de Hugo Chávez.
O que está acontecendo?
- Em agosto, os EUA iniciaram uma mobilização militar na América Latina e Caribe.
- O objetivo declarado é combater o tráfico de drogas que passa na região rumo ao território norte-americano.
- As operações tiveram início em 2 de setembro, quando o primeiro barco foi atacado por forças dos EUA no Caribe. Desde então, cerca de 26 outras embarcações também já foram bombardeadas na região, por estarem supostamente envolvidas no tráfico internacional de drogas. Provas concretas das ligações ainda não se tornaram públicas.
- Em meio à ofensiva, Nicolás Maduro é um dos principais alvos das ameaças de Trump. Isso porque o presidente da Venezuela é apontado como chefe do cartel de Los Soles, mesmo grupo recentemente classificado por Washington como organização terrorista internacional.
Retomada da “política hostil”
Era fevereiro quando Trump reverteu uma decisão do antecessor, Joe Biden, e retomou uma série de sanções contra o setor petrolífero venezuelano.
Na época, o novo presidente dos EUA decidiu retirar uma licença que o governo chavista havia conseguido para negociar o petróleo do país com grandes empresas norte-americanas, como a Chevron, apesar do embargo econômico.
Segundo Washington, a decisão de retomar as sanções foi motivada pelo pleito venezuelano, e o não cumprimento de um acordo para eleições livres no país. O que, na visão de Donald Trump, não foi cumprido por Maduro.
Jogo de morde e assopra
Mesmo com a postura enérgica contra o governo chavista, e o reconhecimento do opositor Edmundo González como o presidente eleito, os EUA continuaram negociando com a administração Maduro.
Em julho, Trump deu aval para o retorno da petrolífera norte-americana Chevron ao mercado venezuelano, após a empresa e os dois países serem afetados pelas sanções norte-americanas contra o petróleo da Venezuela.
Discussões sobre as novas políticas de imigração norte-americanas, um dos principais alvos do primeiro ano do segundo mandato do republicano, também estiveram em pauta.
Um dos episódios girou em torno da deportação de venezuelanos que viviam como imigrantes ilegais nos EUA, que foram enviados para uma megaprisão em El Salvador. Eles foram acusados — sem provas concretas — de integrarem a facção Tren de Aragua (TdA).
Os venezuelanos foram libertados ainda em julho, e retornaram para o país de origem após negociações diplomáticas, que também envolveram a libertação de norte-americanos detidos na Venezuela.
Chefe de cartel e recompensa de US$ 50 milhões
Dias após as negociações bem sucedidas sobre a Chevron e da troca de prisioneiros, Washington voltou a subir o tom contra Nicolás Maduro.
Crítico do governo chavista desde os tempos de congressista, o chefe da diplomacia de Trump, Marco Rubio, classificou a presidência de Maduro como não legítima. As críticas, porém, não se limitaram ao âmbito político. No mesmo comunicado, publicado nas redes sociais em 27 de julho, o secretário de Estado dos EUA classificou o líder venezuelano como chefe do cartel de Los Soles.
A acusação pavimentou o caminho para que Washington ligasse Maduro não só ao tráfico de drogas, como também ao terrorismo, com bases em novas diretrizes da política externa norte-americana.
Logo nos primeiros meses do segundo mandato, Trump implementou uma nova política que passou a classificar grupos com relação ao tráfico de entorpecentes como organizações terroristas internacionais.
Na prática, a mudança criou precedentes para operações militares dos EUA em outros países, sob a justificativa de combater o terrorismo — como já aconteceu em países como o Afeganistão, Síria e Líbia.
“Não podemos continuar tratando esses caras como se fossem gangues locais. Eles têm armas como terroristas ou até mesmo exércitos. Controlam territórios em alguns casos”, disse Rubio em entrevista na época. “O que muda [com a classificação de terroristas] é que nos dá autoridade legal para atacá-los da maneira como conseguirmos”, complementou.
Na esteira das acusações contra Maduro, Trump decidiu seguir a política que já vinha sendo adotada pelo ex-presidente Joe Biden, e aumentou a recompensa pelo presidente da Venezuela para US$ 50 milhões.
Mobilização militar
A retórica agressiva de Trump saiu do campo das palavras para a vida real em meados de agosto, quando a imprensa norte-americana revelou ordens do presidente dos EUA para uma mobilização militar na América Latina e Caribe.
O primeiro passo foi o envio de fuzileiros navais, transportados em uma frota de navios de guerra, para a região. Com a missão, segundo o Pentágono, de combater grupos criminosos que transitavam pelas águas caribenhas, próximas à região costeira da Venezuela.
Em meio a movimentação militar, bastaram poucos dias para a primeira ação concreta de forças norte-americanas na América Latina. Em 2 de setembro, Trump anunciou que um barco, supostamente transportando drogas da Venezuela para os EUA, foi bombardeado no Caribe. Este seria apenas o pontapé inicial para as operações contra embarcações na região.
Naquele momento, a região latino-americana ainda não era alvo de uma operação militar oficial dos EUA — ainda que a frota de navios de guerra norte-americanos tenha recebido o reforço de caças F-35, de um submarino nuclear e do porta-aviões USS Gerald R. Ford.
Os movimentos provocaram reações do presidente Nicolás Maduro, que também passou a organizar a Venezuela militarmente, por forças oficiais ou milícias locais ligadas ao governo, para a proteção do país.
Operação Lança do Sul
No fim de outubro, Trump subiu o tom e revelou que os bombardeios nas águas da América Latina poderiam evoluir para operações por terra, conforme treinamentos de marines dos EUA mobilizados para a área já indicavam.
Em 13 de novembro, porém, a ofensiva ganhou um caráter oficial. Por meio de um comunicado divulgado na rede social X, o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, anunciou o lançamento da operação militar Lança do Sul.
Sob ordens de Trump, o secretário de Guerra dos EUA afirmou que a decisão visava aumentar os esforços norte-americanos na região contra “narcoterroristas”.
Cerco contra a Venezuela
Enquanto forças norte-americanas atacavam barcos em águas caribenhas, e do Oceano Pacífico, Trump aumentou o cerco contra a Venezuela no fim de novembro.
Aumentando o risco de possíveis ataques contra a Venezuela, o presidente dos EUA declarou o espaço aéreo do país como “totalmente fechado”, sem dar maiores detalhes sobre o polêmico anúncio.
Já em 10 de dezembro, os EUA voltaram a atingir o governo Maduro de forma direta, após a apreensão de um navio petroleiro na região costeira da Venezuela. Sancionada por Washington, a embarcação estaria envolvida no transporte de petróleo venezuelano para o Irã, outro país alvo de retaliações econômicas e embargo por parte de Washington.
O caso mobilizou a chancelaria da Venezuela, que acionou o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), e denunciou o ato como “pirataria”.
Mirando novamente o setor petrolífero da Venezuela, país detentor das maiores reservas do combustível fóssil ao redor do mundo, Trump anunciou nesta semana um novo bloqueio contra o país liderado por Maduro. Desta vez marítimo, que busca impedir a entrada ou saída de navios sancionados pelos EUA na Venezuela.
Em uma mensagem divulgada na Truth Social, o líder norte-americano voltou a acusar Maduro de ter ligações com o tráfico de drogas. E, sem deixar claro do que se referia, afirmou que a medida também foi motivada roubo de “petróleo, terras e outros bens” dos EUA, assim como por “terrorismo, tráfico de drogas e tráfico de pessoas” pelo governo Maduro.
Segundo o presidente republicano, a Venezuela está atualmente “cercada pela maior armada já reunida na história da América do Sul”. Por isso, o cerco contra o país só deve ser encerrado quando o “petróleo, terra ou quaisquer outros ativos” norte-americanos forem devolvidos. Até o momento, contudo, a administração Trump ainda não deixou claro sobre bens dos EUA que teriam sido apropriados pelo governo Maduro.







