Com o conclave marcado para começar no dia 7 de maio, os cardeais que escolherão o próximo papa seguem uma rotina de preparação que inclui cerimônias religiosas, reuniões internas e, em meio à espera, até situações inusitadas.
O Vaticano já iniciou os preparativos formais e práticos, e a Capela Sistina foi fechada ao público desde o dia 28 de abril para a montagem da estrutura que será usada durante as votações, incluindo a chaminé por onde sairá a fumaça que indicará o resultado de cada sessão.
A eleição acontece após a morte do papa Francisco, em 21 de abril, aos 88 anos. De acordo com a tradição da Igreja Católica, o conclave só pode começar após um período de luto de nove dias, chamado de novendiali.
Durante esse tempo, os cardeais se reúnem para as chamadas Congregações Gerais, onde discutem o momento atual da Igreja e os desafios que o novo papa deverá enfrentar.
Esses encontros acontecem duas vezes por dia na Aula Paulo VI, dentro do Vaticano. Além disso, os cardeais também participam de missas, visitam igrejas e mantêm contato com fiéis.
Restaurantes, partidas de tênis e até frigobar pago
Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, o arcebispo emérito Anselmo Guido Pecorari, de 79 anos, explicou que a rotina pré-conclave é puxada e repetitiva. Por isso, alguns aproveitam os intervalos livres para relaxar — e, às vezes, protagonizam situações curiosas.
Pecorari contou que um cardeal estrangeiro, cujo nome não foi informado, se confundiu com as regras da Casa Santa Marta, local onde os eleitores do conclave estão hospedados. Ele acreditava que tudo era gratuito e resolveu organizar um encontro informal em seu quarto.
Convidou outros cardeais e todos consumiram as bebidas do frigobar. No dia seguinte, veio a surpresa: os itens foram cobrados e o valor apareceu na conta da hospedagem. O episódio virou motivo de comentários entre os presentes.
Também é comum que alguns cardeais saiam para jantar fora do Vaticano, aproveitando restaurantes simples nos arredores, como o La Rustichella e o Ristorante Marcantonio, conhecido por servir a tradicional carbonara.
Há quem prefira um sorvete na Latteria Giuliani. Em uma dessas saídas, dois cardeais foram reconhecidos por fiéis, que se ajoelharam diante deles. A cena gerou desconforto, e desde então, alguns têm optado por usar roupas menos clericais para evitar esse tipo de situação.
Há ainda espaço para atividades individuais. Um dos cardeais, o espanhol Santos Abril y Castelló, é conhecido por jogar tênis. Mas, segundo Pecorari, ele não gosta de perder. Quando vê que a partida está indo mal, costuma pedir a seu assistente para interromper o jogo, sob a desculpa de uma ligação urgente — e assim evita a derrota.
O conclave
Esses momentos mais leves devem chegar ao fim no próprio dia 7 de maio, quando os cardeais entram oficialmente em clausura. A programação do dia começa às 10h da manhã, com a Missa Pro Eligendo Papa, celebrada na Basílica de São Pedro e presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício.
Às 16h30, todos os cardeais eleitores se reúnem na Capela Paulina para uma oração, onde recitam a Ladainha de Todos os Santos. Em seguida, caminham em procissão até a Capela Sistina.
Antes do início das votações, eles cantam o hino Veni Creator Spiritus e fazem um juramento solene: prometem manter segredo sobre tudo o que ocorrer no conclave e se comprometer com os deveres do pontificado, caso sejam escolhidos.
A partir desse momento, o acesso externo é proibido. Celulares são recolhidos, as janelas são trancadas e varreduras são feitas para impedir escutas. Todo o processo segue regras rigorosas, que visam garantir o sigilo e a liberdade de escolha.
A expectativa é de que o novo papa seja conhecido já nos dias 8 ou 9 de maio, mas não há prazo definido. A votação exige maioria de dois terços. Sempre que não há consenso, as cédulas são queimadas e a fumaça preta indica que a escolha ainda não aconteceu.
Quando um nome é aprovado, a fumaça branca sobe pela chaminé da Capela Sistina e os sinos da Basílica de São Pedro tocam. É o anúncio oficial de que a Igreja tem um novo líder: Habemus Papam.
