A política, sobretudo em cidades do interior, costuma revelar com nitidez aquilo que muitas vezes, nos grandes centros, fica diluído pelo espetáculo e pelo barulho das disputas maiores: a essência do poder e sua relação direta com a lealdade, a gratidão e a ambição. Em Pedras de Fogo, essa lição está sendo dada em praça pública.
O rompimento entre o prefeito Bá Barros e a vice-prefeita Dra. Manuella Maroja, filha do ex-prefeito Manoel Júnior, escancarou não apenas a fragilidade de alianças, mas também a escolha pragmática de muitos que, até pouco tempo, orbitavam em torno do prestígio e da liderança de Manoel Júnior. Pessoas que por anos se diziam amigos, aliados de primeira hora, admiradores fiéis, hoje caminham ao lado do poder constituído, ainda que isso signifique abandonar a herdeira política daquele a quem tanto devotavam respeito.
É verdade que a política é feita de interesses, ajustes e até traições. Mas também é verdade que o eleitorado observa e registra esses movimentos. Manoel Júnior partiu de forma prematura, deixando uma lacuna não apenas administrativa, mas afetiva em muitos moradores da cidade. Ao trazer sua filha para compor a chapa vencedora em 2024, acreditou-se que haveria continuidade de um projeto e respeito a uma memória. O que se vê, no entanto, é a pressa da ambição em sufocar a gratidão.
Com apenas oito meses de gestão, o prefeito exonerou todos os indicados da vice-prefeita e reduziu sua participação política a quase nada. Mais do que uma ruptura administrativa, foi um recado: o poder não admite divisão. E, diante desse recado, antigos aliados de Manoel Júnior preferiram continuar perto da caneta, mesmo que isso custe a lealdade a quem um dia os fez crescer.
A pergunta que fica é simples e incômoda: até que ponto vale a pena trocar a gratidão pelo conforto de estar junto ao poder?
Por Bruno Lira