É curioso e ao mesmo tempo preocupante, observar como dois municípios colados geograficamente podem viver realidades tão opostas do ponto de vista financeiro e administrativo. Soledade e Juazeirinho, vizinhos no Cariri paraibano, revelam hoje um contraste que diz muito sobre capacidade de gestão, planejamento e prioridades públicas.
Soledade, com pouco mais de 13 mil habitantes, enfrenta um fim de ano que nenhum gestor gostaria de administrar. O prefeito Miranda Neto anunciou, na última segunda-feira, um decreto de contenção extrema: exoneração de comissionados, cortes de contratados e enxugamento de despesas em praticamente todos os setores da prefeitura. Medidas duras, impopulares e que costumam deixar cicatrizes políticas profundas.
É verdade que Miranda está no comando há apenas 11 meses e não é justo depositar sobre seus ombros toda a responsabilidade pelo atual colapso financeiro. Queda de arrecadação, aumento de gastos obrigatórios, como salários reajustados por lei e possíveis problemas herdados de gestões anteriores certamente pesam. Ainda assim, o fato é que Soledade vive um momento de desorganização fiscal que não se resolve apenas com decretos de emergência.
Enquanto isso, o cenário em Juazeirinho é o oposto. A prefeita Anna Virgínia, reeleita e bem avaliada, segue entregando obras, mantendo o quadro de servidores, executando investimentos e conduzindo a gestão com estabilidade. Não há anúncios de cortes, não há clima de colapso, não há demissões em massa. Pelo contrário: o município dá sinais de planejamento, continuidade e equilíbrio.
A pergunta é inevitável: como cidades vizinhas, com perfis econômicos semelhantes, vivem trajetórias tão diferentes?
Não se trata de coincidência geográfica, mas de competência administrativa. Gestão pública não é só pagar folha; é planejar, antecipar cenários, organizar prioridades, controlar despesas e, principalmente, construir bases sólidas para que o município resista às variações econômicas. Quando isso não acontece, o resultado aparece rápido e dolorosamente.
O contraste entre os dois municípios deveria servir de alerta não apenas para Soledade, mas para toda a região. Mais do que números, arrecadação ou população, o que diferencia um município que avança de outro que recua é a capacidade de governar com planejamento, transparência e compromisso real com o interesse público.
E, diante da comparação inevitável, uma conclusão se impõe: algo está profundamente errado na condução financeira de Soledade. Não é apenas má fase. É sintoma de um modelo que precisa ser revisto e com urgência.
Por Bruno Lira


