Foi com grande alegria que os fãs receberam a notícia de que o recém-formado Beat faria um show único no Brasil. O supergrupo que une Adrian Belew (guitarra e vocais), Tony Levin (baixo) – ambos integrantes da fase anos 80 do King Crimson –, Steve Vai (guitarra) e Danny Carey (bateria) ganhou vida no ano passado para homenagear a seminal banda britânica de rock progressivo fundada por Robert Fripp na década de 1960.
O Crimson, que tem na essência a ideia da reinvenção musical, transformou completamente sua sonoridade nos anos 80 com a chegada de Belew e Levin nos discos Discipline (1981), Beat (1982) e Three of a Perfect Pair (1984). Foram justamente os três álbuns escolhidos para guiar a apresentação que ocorreu nesta sexta-feira, 9, em São Paulo, no Espaço Unimed.
O local foi o mesmo onde o conjunto de Fripp fez show mesmerizante em 2019, na única vinda ao Brasil em mais de 50 anos de carreira. Naquela ocasião, porém, quase nada do período oitentista foi tocado, mesmo com Levin na formação. O foco era o material dos anos 60 e 70, de clima denso e melódico. Um ano antes, o Stick Men, outro projeto derivado de membros do KC – também com Levin, além do baterista Pat Mastelotto, o guitarrista Markus Reuter e o violinista David Cross –, atraiu admiradores do prog rock na capital paulista, mas o caráter e a abordagem daquele quarteto eram diferentes.

Supergrupo Beat em show em SP Foto: Divulgação/Mercury Concerts
Atualmente, o King Crimson vive hiato por tempo indeterminado. Depois da última turnê mundial, Fripp indicou estar se aposentando dos palcos (ele está com 78 anos). Prova disso foi o recluso músico ter recusado o convite para participar do Beat, conforme Belew relatou em entrevista ao Estadão. Mesmo assim, Adrian conseguiu a bênção do mentor para comandar o projeto.
Na corte dos súditos do Rei Carmesim
O que se viu no palco, durante duas horas, foram quatro instrumentistas excepcionais atacarem um repertório complexo com virtuosidade, ousadia e respeito. O supergrupo deu um show de rock progressivo do mais alto nível musical para cerca de 3 mil pessoas na tradicional casa localizada na região da Barra Funda.
O setlist, dividido em duas partes, começou com Neurotica, Neal and Jack and Me, Heartbeat (única a ter estrutura mais normal de andamento e melodia) e Sartori in Tangier.
“Boa noite, olha só como vocês são lindos. Obrigado por terem vindo”, saudou um sucinto Belew, de 75 anos, que ficou famoso na indústria musical por ter trabalhado com Frank Zappa, Talking Heads, David Bowie e Paul Simon. Cantando de forma segura e descontraída, ele ditava o ritmo do Beat com sua guitarra.

Adrian Belew comandou show do Beat em SP Foto: Divulgação/Mercury Concerts
Levin, dos melhores baixistas vivos, dedilhava as cordas graves com maestria, além de tirar sons poderosos do Stick (instrumento elétrico que mistura baixo e guitarra). Ele é membro da banda de Peter Gabriel há décadas e já gravou com centenas de artistas, incluindo John Lennon, no álbum Double Fantasy (1980).
Steve Vai, com chapéu e óculos escuros, tinha a difícil missão de reproduzir os solos e licks intrincados de Fripp, mas se saiu bem ao não tentar imitá-lo e trazer frescor às faixas, sempre com discrição. O astro, cuja prestigiosa carreira fala por si só, já participou de muitos projetos no Brasil, seja com turnês ou palestras.

Steve Vai em show do Beat em SP Foto: Divulgação/Mercury Concerts
Danny Carey, por sua vez, voltou ao País algumas semanas após tocar com o Tool no Lollapalooza 2025. O baterista trouxe sua experiência da banda californiana de metal progressivo (e muito influenciada pelo Crimson) para reproduzir as batidas de Bill Bruford com timbres brutais e precisamente calculados, quase que de forma matemática.
Após a desordenada Larks’ Tongues in Aspic (Part III), um apropriado intervalo de 20 minutos deu ao público a chance de digerir todo aquele caos sonoro. Na reta final do concerto, os temas Frame by Frame, Matte Kudasai e Elephant Talk despertaram euforia.
No bis, já passava da meia-noite quando Belew mandou trazer um bolo ao palco para homenagear o aniversariante Carey, que completa 63 anos. A plateia cantou rapidamente Happy Birthday To You para ele antes de vibrar com a instrumental Red, de 1974, única faixa a não dialogar com os anos 80. O desfecho do show brilhante foi com Thela Hun Ginjeet.


