O ano de 2025 consagrou as turnês em estádios de grandes nomes da música popular brasileira, puxadas por Tempo Rei, a despedida de Gilberto Gil dos grandes espetáculos. Os Paralamas do Sucesso experimentaram esse sucesso quando lotaram o Allianz Parque, em maio deste ano. Marisa Monte ançou Phonica, não em estádios, mas em espaços abertos – aqui em São Paulo, a apresentação foi no Parque do Ibirapuera, em novembro.
Os especialistas e parceiros do Estadão fizeram a seleção dos melhores shows nacionais deste ano. A lista ficou diversa, com uma vantagem para Tempo Rei, de Gil. Também traz nomes que começam a despontar, como o de Luedji Luna.
Danilo Casaletti, repórter de cultura do Estadão
Com três horas de duração, a despedida de Gil das grandes turnês se tornou programa obrigatório por onde passou. Com repertório que privilegiou os grandes sucessos do compositor – Palco, Toda Menina Baiana e Aquele Abraço foram alguns delas -, o show tinha ainda forte apelo visual, sobretudo pela espiral pendurada no centro do palco. A ideia de trazer convidados diferentes a cada apresentação foi mais que bem-vinda. Estiveram presentes nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Elba Ramalho, Marisa Monte, Sandy, Anitta, Jorge Ben Jor, Nando Reis e muitos outros. Histórico! (LEIA A CRÍTICA).
- Maria Bethânia – 60 anos de carreira

Maria Bethânia fez turnê histórica de 60 anos de carreira Foto: Júlia Pereira/Estadão
Sempre cuidadosa com seu trabalho, a cantora comemorou a data com um novo show – só em São Paulo foram quatro finais de semana em cartaz, com casa cheia – no qual cantou músicas que não apresentava ao vivo há tempos, entre elas, Cheiro de Amor, Gás Neon e Balada do Lado Sem Luz. Bethânia também trouxe novidades, como os sambas Vera Cruz e Balangandãns. No entanto, a grande pérola do espetáculo é Palavras de Rita, uma carta que Rita Lee escreveu pouco tempo antes de morrer e deixou para que Roberto de Carvalho, que a musicou, entregasse para Bethânia (LEIA A CRÍTICA).
Acompanhada por uma orquestra sinfônica com 55 músicos sob regência do maestro André Bachur, Marisa mostrou novos arranjos para seus hits. Bachur soube respeitar as características dos arranjos originais e consagrados de canções como Amor, I Love You, Vilarejo, Ainda Bem e outras. É preciso destacar também a banda de Marisa, presente durante todo o espetáculo – e decisiva em muitas das canções. Passam-se os anos e Marisa continua manter sua aura de grande diva da música popular brasileira (LEIA A CRÍTICA).
Leandro Cacossi, apresentador do Fim de Tarde, na Rádio Eldorado
A turnê de despedida de Gilberto Gil dos palcos tem arrastado multidões e encantado o público com um setlist de hits históricos da MPB e dezenas de participações especiais. É como entrar em campo com o jogo ganho na companhia de parceiros históricos, nomes das novas gerações e figuras emblemáticas da nossa música. Mas dificilmente um momento de emoção vai superar o do show de 26 de abril no Allianz Parque, em São Paulo, quando Preta Gil subiu pela última vez ao palco para dividir os vocais de Drão ao lado do pai.
- Os Paralamas do Sucesso – Allianz Parque

O vocalista Herbert Vianna, em show no Allianz Parque Foto: Felipe Rau/Estadão
A comemoração dos 40 anos de carreira dos Paralamas do Sucesso reuniu quase 50 mil pessoas no Allianz Parque e mostrou a força que a banda tem na história do rock brasileiro. Mais que uma celebração da própria banda, a apresentação representou a importância que o movimento da década de 1980, do qual o Paralamas é um dos representantes, tem até hoje e a influência daquele som para as décadas seguintes (LEIA A CRÍTICA).
- Nando Reis & Chico Chico – Coala Festival
O encontro de Nando Reis com Chico Chico no Coala Festival 2025, de certa forma, já pode ser classificado como histórico. Reunir num mesmo palco um dos principais compositores cantados por Cássia Eller e o filho da artista parece ter sido um primeiro passo para perpetuar, definitivamente, o legado deixado por ela para uma legião de fãs.
Roberta Martinelli, apresentadora do Som a Pino e Clube do Livro, na Rádio Eldorado
- Nando Reis e Chico Chico – Coala Festival

Chico Chico e Nando Reis se apresentaram juntos pela primeira vez neste ano Foto: Jorge Bispo/Divulgação
Catarse absoluta, encontro forte com história e continuidade – de chorar demais cantando e pulando.
- Planet Hemp – A Última Ponta
A história dos maconheiros mais famosos do Brasil cantada para um estádio [Allianz Parque] – com direito a muitos encontros.
- Luedji Luna – Espaço Unimed
Show de lançamento dos seus dois discos, Um Mar Para Cada Um e Antes Que a Terra Acabe – música, performance e poesia tudo junto e misturado.
Sabrina Legramandi, repórter de cultura do Estadão

Marisa Monte se apresenta no Ibirapuera Foto: Camille Damasceno
Padroeira dos românticos, Marisa teve suas músicas, que tanto fazem parte do imaginário popular, elevadas a outro patamar de beleza com uma orquestra no palco. O show Phonica ocupou o Parque Ibirapuera com casais apaixonados e o sorriso constante da cantora. Ela fez uma imersão em seu infinito particular, com canções que a valorizaram como intérprete e compositora. Ainda deu tempo de incluir faixas de Os Mutantes, Gilberto Gil e, claro, dos Tribalistas. Quem foi voltou cantando e dançando até na garoa fina de São Paulo.
- Mano Brown, Rael e Rincon Sapiência – No Line-Up Festival
A proposta maluca do No Line-Up Festival, que não revelou as atrações até elas subirem ao palco, entregou alguns dos melhores shows do ano. O de Mano Brown foi um deles. Em horário privilegiado, antes da headliner Chaka Khan, o líder do Racionais MCs lotou um espaço apertado em um dos galpões do festival e se mostrou à vontade ao brincar entre o rap e o funk-soul. A apresentação ainda contou com a presença de Rael e Rincon Sapiência – mas era Brown quem sempre conduzia o roteiro. O clímax foi o final, com a sequência de Vida Loka (Parte 1) e Vida Loka (Parte 2).
- Alaíde Costa e Claudette Soares – The Town
Sempre de mãos dadas, Alaíde e Claudette fizeram um show histórico que celebrou os 70 anos de amizade das duas. Elas foram acompanhadas pela orquestra do The Town, a The Square Big Band, e cantaram clássicos indispensáveis da bossa nova. Elas, afinal, têm mérito na expansão do gênero. “Mostramos o que foi e o que sempre será a bossa nova”, disse Claudette ao final da apresentação. Pena que um público pequeno as ouviu (LEIA A CRÍTICA).
Sérgio Martins, colunista de música do Estadão
- Gilberto Gil – Tempo Rei
Um dos mestres da música brasileira revê meio século de carreira, acompanhado por uma banda na qual se destaca a direção musical do filho, Bem Gil, o sanfoneiro Mestrinho, e outros rebentos e familiares em posições-chave na sua banda. Uma história contada através de um repertório impecável, execução perfeita (me emociono só de lembrar de Se Eu Quiser Falar com Deus, na qual Mestrinho faz uma citação a Retiros Espirituais, do belo Refazenda, de 1976) e algumas participações especiais. O show que assisti foi justamente a despedida de Preta Gil, que cantou Drão ao lado do pai.
- Vanessa da Mata – Todas Elas

A cantora Vanessa da Mata estreia novo show em São Paulo Foto: Mariana Olliver
Numa recente conversa que tive com a cantora, ela me falou da necessidade de estar sempre se renovando. Na linguagem gastronômica/musical de Vanessa, às vezes vale a pena trocar um arroz com feijão bem feito por escargot. Pois Todas Elas, o novo espetáculo musical da cantora e compositora, é uma performance para todos os paladares. Muito bem dirigida por Jorge Farjalla, com quem trabalhou no musical Clara Nunes, a tal Guerreira, Vanessa equilibra as dançantes canções do seu mais recente álbum (a minha predileta é Maria Sem Vergonha, de letra e melodia fortíssimas) com hits do passado e releituras que vão de Zezé di Camargo & Luciano a Stevie Wonder e Giacomo Puccini.
- Mateus Aleluia – Baía Profunda
O cantor e compositor baiano foi integrante de Os Tincoãs, grupo que combinou, com maestria, o samba do Recôncavo Baiano e o cancioneiro afro-brasileiro com os spirituals da música norte-americana. Baía Profunda estreou no início de novembro na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, e trouxe para o público um híbrido do estilo de Mateus e dos Tincoãs com a música de concerto –aqui, executada com maestria pela Orquestra Afro-Sinfônica e seu diretor artístico, o maestro Ubiratan Marques. Um espetáculo de profundo poder musical e espiritual.


