Um auspicioso e inédito 2025 começa numa repetida quarta-feira que lembra as cinzas do símbolo maior das nossas ambiguidades: o carnaval, que não termina porque as nossas elites instaladas nos seus palácios e gabinetes “cuidam” para que o Brasil não mude.
Criamos o tempo, aprisionando-o em segundos, horas, dias, semanas, meses, anos, séculos, milênios e eras. Um englobamento no qual salientamos a semana. No Gênesis, Deus fez o mundo em sete dias para repousar no domingo.
Para a modernidade agnóstica, entretanto, os sete dias concretamente vividos da semana não despertam o mesmo sentimento das anualidades não recorrentes que empacotam 52 semanas e 365 dias. Semanas e meses repetitivos não marcam legalmente nossas vidas. Nossas tumbas, porém, registram datas de nascimento e morte. Celebramos as passagens semanais com um caseiro “sextar”.

Criamos o tempo, aprisionando-o em segundos, horas, dias, semanas, meses, anos, séculos, milênios e eras Foto: Adobe Stock
Quanto menor a unidade de tempo, mais subjetivo é o espaço a ele alocado. As semanas são mais pessoais do que os aristocráticos séculos e os humildes e sempre vergonhosos segundos de nossos gozos e nossas covardias. Os dias da semana marcam a alternância entre o repouso em casa e o trabalho na rua.
A casa exclui “movimento” do qual nasce o inesperado positivo ou negativo. O anonimato das grandiosas medidas de tempo não cabe no espaço da casa, onde todo mundo sabe muito bem com quem está falando. A ritualização dos fins de semana pertence ao ideal de “não fazer nada”, que é o fazer tudo da felicidade. As semanas, como os meses, “voam”, mas os anos “passam” e assinalam atraso, pandemia, guerra, roubalheira ou progresso.
Os meses chamam atenção para situações extraordinárias: a doença o levou em dois meses; agosto, mês de desgosto do suicídio de honra de Vargas, maio – mês de Maria… Não inauguramos semanas e meses. Eles sugerem uma permanência que disfarça o fim porque eles não se sucedem como etapas históricas.
Mas a cada ano renovamos esperanças que vão além da casa, da rua, do bairro, da cidade e alcançam o País, o mundo e os céus. O espaço de um ano pode conter tragédia ou comédia. Revoluções têm datas: 1789, 1917 – não estouram em bucólicos domingos de sol.
Contudo, todos caímos num 1.º de abril em 1964… Ademais, os dias de um ano trazem inovações que vão promover melhorias como imagina o nosso progressismo.
Além disso, sentimos o tempo como uma mercadoria que pode ser perdida ou vendida. Finalizo com Santo Agostinho. Ele disse que o tempo vem do futuro que ainda não existe, para o presente que não tem permanência e vai para o passado que não mais existe.
Feliz 2026!


