[ad_1]
Um dos grandes escritores da literatura brasileira, Rubem Fonseca completaria 100 anos em 11 de maio de 2025. Em celebração ao centenário do escritor, a editora Nova Fronteira lançará um box comemorativo com três volumes e dois contos inéditos: Arinda e Natal – leia abaixo um trecho deste último.
Os contos foram selecionados por Bia Corrêa do Lago, autora, pesquisadora e filha de Fonseca. Ela os encontrou enquanto organizava o arquivo deixado pelo pai, que morreu em 2020, aos 94 anos. Bia se surpreendeu com a quantidade de escritos, poemas e, claro, contos que o pai guardara.
Ao Estadão, ela explicou que Arinda e Natal foram escritos em 1948 e, embora muitos distintos, já apresentam “características que marcariam sua obra no futuro”. Sobre Natal, ela afirmou que o conto é “muito pungente, sobre os desencontros e a solidão humana, mas também de como um amor pode brotar nesse descompasso.”
O escritor Rubem Fonseca completaria 100 anos em 2025. Foto: Zeca Fonseca/Divulgação
Leia trecho de ‘Natal’ (1948)
Não era propriamente um velho. Mas a mocidade se fora irremediavelmente. Não era um homem vaidoso, porém, naquele dia – em que a verdade surgiu específica ao cinzento das têmporas e no coração gasto – contemplou-se demoradamente no espelho e aceitou conformado o início do que ele mesmo denominou sua decomposição.
De todos os ângulos, seu rosto envelhecia. Seu lado esquerdo sempre fora mais velho, mais seco, enrugado, sóbrio. Agora tudo mostrava a derrota ante o tempo: a boca esquecida, sem artifícios, se tornava frouxa e triste. Os olhos, mais fundos e pisados, apresentavam sanguíneas estrias na esclerótica.
Era dia 24 de dezembro o Paulo Castro pela primeira vez sentia-se tremendamente só e angustiado. Em outras ocasiões procurara uma mulher, se embriagara ou não tomara conhecimento do Natal. Agora, a única vontade totalmente perceptível era a de sair e misturar-se com pessoas. O resto era um emaranhado de sentimentos contraditórios e vagos. Segurou a gravata de cores alegres, e, com um último e calmo olhar colocou-a definitivamente de lado. Escolheu uma gravata escura e mecanicamente deu o laço.
– Afinal – pensou antes de sair – eu tenho tido uma vida muito vazia.
Uma hora depois estava no centro comercial da cidade contemplando, com grande interesse, a multidão caminhando apressadamente, como se algo precisasse ser feito. Percebeu que todos, ou quase todos, levavam embrulhos, sentindo-se subitamente mal com as mãos vazias, como se não fosse daquele mundo de pessoas apressadas, com um objetivo.
– Vou comprar alguma coisa – pensou.
Atraído pelas vitrines, entrou em uma loja. Uma vendedora se dirigiu a ele. Era uma mulher jovem, com um sorriso simpático.
– O que deseja, cavalheiro?
– Queria comprar uns presentes – respondeu Paulo.
– Para senhora, menina…
– Isso – cortou Paulo -, minha mulher e minha filha.
Sentiu que corava, como se mentisse pela primeira vez…
Box Todos os Contos + 2 Inéditos: Centenário de Rubem Fonseca
- Autor: Rubem Fonseca
- Prefácios de Vera Lúcia Follain de Figueiredo, Maria Antonieta Pereira, Miguel Sanches Neto e Silviano Santiago
- Editora: Nova Fronteira (2096 págs.; R$ 399,90 | E-book: R$ 279,99)
- Pré-venda já disponível
[ad_2]
Source link