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Kerry KingMúsico
A imagética satânica e a aparência carrancuda enganam. Kerry King é, na verdade, um senhor simpático, bom de papo e adepto de fliperamas e games para celulares, como Candy Crush e Angry Birds.
O guitarrista fundador do Slayer, dos nomes mais importantes do heavy metal, fez uma rápida viagem ao Brasil, no começo de abril, para divulgar seu primeiro álbum como artista solo, lançado no ano passado após o fim da banda que o consagrou.
‘Fim’, porém, pode ser uma palavra inadequada para o grupo californiano. Eles dizem que encerraram as atividades em estúdio e as longas turnês, mas seguem realizando shows especiais (como a despedida do Black Sabbath, marcada para 5 de julho) porque “os promotores não dão sossego”, confessa King, responsável por colocar o conjunto, do clássico álbum Reign In Blood (1986), no alto escalão do metal, dentro do chamado Big Four [Quatro Grandes] – quarteto que popularizou o gênero nos anos 80 composto também por Metallica, Megadeth e Anthrax.
O músico de 60 anos também será uma das principais atrações do Bangers Open Air, que ocorre entre os dias 2 e 4 de maio no Memorial da América Latina, na zona oeste da capital paulista, reunindo dezenas de artistas internacionais como Glenn Hughes, Saxon, Sabaton, entre outros.
Como adendo, cabe salientar uma apuração do Estadão a respeito do imbróglio envolvendo o nome deste festival, antes chamado de Summer Breeze. A edição original do evento é sediada anualmente na Alemanha desde 1997. Em 2023, ganhou uma versão no Brasil e conquistou os fãs de som pesado. O sucesso abriu caminho para o repeteco no ano seguinte, mas os organizadores tomaram conhecimento de que a marca já havia sido registrada no País por um empresário carioca. Iniciou-se então uma complexa batalha judicial que está em andamento e envolve o Protocolo de Madri, tratado internacional de registro de marcas. A edição de 2024 só pôde estampar o nome Summer Breeze por meio de liminar. Para este ano, porém, a alteração precisou ser realizada. Sob o novo título, o Bangers carrega os mesmos princípios de seu antecessor. A confusão, no entanto, não afetou tanto a procura por ingressos, e a montagem de 2026 já está confirmada.
Nesta entrevista ao Estadão, realizada em um hotel chique de São Paulo, Kerry King falou, dentre uma série de assuntos, sobre o fascínio em torno de Satanás. O vernáculo demoníaco, com pentagramas e cruzes invertidas, é comum no estilo musical do qual ele é referência. Não à toa, seu disco From Hell I Rise [Do Inferno Eu Me Levanto, em tradução livre] estampa o Belzebu na capa, e a primeira canção se chama Diablo. Leia abaixo a entrevista.
Kerry King, fundador do Slayer, estreou como artista solo no álbum ‘From Hell I Rise’ Foto: Jim Louvau/Divulgação
Neste primeiro álbum solo, você estava buscando fazer um som diferente do Slayer ou sentiu que precisava manter algumas das semelhanças?
Pessoalmente, eu só queria que fosse o próximo disco, seja ele do Slayer ou da minha própria banda. O último disco do Slayer foi 90-95% meu. Então, obviamente, o próximo disco vai soar muito similar ao que acabei de fazer. E eu, como fã, gosto do AC/DC porque eles soam como AC/DC. Gosto do Black Sabbath porque eles soam como Sabbath. Eu gosto do Judas Priest porque eles sempre soam como Judas Priest. Então, pensei que meus fãs, na maioria das vezes, queriam que Kerry King fosse Kerry King e eu simplesmente segui em frente. (…) Achei que o álbum ficou bom. Se vou para a academia, eu o escuto.
É difícil te desassociar da sua persona no palco, por isso que queria conhecê-lo melhor. O que gosta de fazer no tempo livre?
Acabei de pegar meu novo telefone antes de vir para cá e eu não conseguia descobrir como acessar a loja de aplicativos. Quer dizer, eu conseguia encontrá-la, mas não conseguia fazer funcionar. E eu estava tipo: ‘eu não vou entrar nesse voo intercontinental sem nenhum jogo’. Então, eu estava na sala Vip em Nova York e finalmente consegui. Enchi uma página inteira com jogos só para ter coisas para fazer.
Kerry King, fundador do Slayer, é um colecionador de cobras e fã de games para celulares, como Candy Crush Foto: Taba Benedicto/ Estadão
O que você jogou?
Eu baixei um jogo de boliche, um jogo de dardos, Best Fiends, todos os jogos de Candy Crush, depois Time Killers. Joguei muito Angry Birds quando os jogos eram meio que novidade. E em turnê, nos bastidores, tudo o que você tem é tempo. Você está apenas sentado lá por horas. Mas isso pode ser opressor, sabe? É por isso que eu não tenho um console na minha casa, porque eu vou ficar lá jogando quando eu deveria estar ensaiando. Uma vez, anos atrás, acho que foi antes do disco Christ’s Illusion (2006), minha esposa me comprou uma máquina de fliperama. E isso atrasou o disco seis meses porque eu estava jogando aquele maldito jogo o dia todo.
Você criava cobras, certo?
Sim, eu gosto de répteis. Cachorros precisam de cuidado todos os dias, gatos e pássaros também. E ocorreu-me, quando eu estava em turnê e vi alguém que tinha uma jiboia da Colômbia, que eu poderia ter uma cobra porque elas não precisam comer todos os dias.
Você já foi mordido?
Ah, sim. Eu sou um colecionador. Todas as vezes que tive cobras, sempre fiquei com muitas delas e isso consome bastante tempo. Eu me mudei para Nova York em 2021. E quando me mudei de costa a costa, deixei as cobras para trás. Porque é tudo muito caro em Nova York e para abrigá-las, eu precisaria de uma instalação gigante. Então, eu apenas tomei uma decisão comercial e não as trouxe, mas eu gosto delas. Uma das espécies que eu me especializei foi nas jiboias de cauda vermelha do Sul do Brasil. Eu tive várias dessas.
Aqui em São Paulo, há o Instituto Butantan. Você deveria conhecer, pois eles fazem um trabalho muito importante com cobras…
Eu ouvi falar. Vou encontrar tempo para fazer isso. Se não agora nesta viagem, daqui um mês.
E quando você vem para o Brasil, o que gosta de fazer aqui?
Estou sempre ocupado, dando entrevistas ou com shows. Eu geralmente não tenho dias de folga. Mas quando o trabalho termina, nós encontramos um bom lugar para ir comer. Ontem à noite, acabamos em um lugar com mesa de bilhar e fliperama. Nós sempre vamos a uma churrascaria, algo muito brasileiro, mas isso nós já fizemos.
Kerry King em show da banda Slayer abrindo para o Iron Maiden, em São Paulo, na Arena Anhembi, em 2013 Foto: Filipe Araujo/Estadão
Dentre as bandas do Big Four, tirando o Slayer, qual a sua favorita?
Metallica, de longe. Eles fizeram muitos discos que não foram os meus favoritos, e eles sabem disso. Isso gerou brigas ao longo dos anos, mas eu amo esses caras. O Kirk [Hammett] é um grande amigo meu. O [Robert] Trujillo eu conheço desde que ele estava no Suicidal Tendencies. O Lars [Ulrich] também. O James [Hetfielfd] eu não conheço tão bem assim. Toda vez que estamos perto do James, ele sempre vem dizer ‘oi’, mas é muito reservado. Ele é meio como o Jeff [Hanneman, guitarrista morto em 2013] era na minha banda. Mas para mim, os três primeiros discos deles são f***.
‘Reign In Blood’ completa 40 anos no ano que vem. O que tinha de tão especial naquele álbum e como ele ajudou a carreira do Slayer?
Foi a primeira vez que fomos para um estúdio melhor. Tivemos um engenheiro melhor, melhor orçamento. Mas, no final das contas, para Jeff e eu apenas eram as próximas 10 músicas. Não dissemos: ‘vamos fazer esse terceiro disco o maior álbum de thrash metal de todos os tempos’. É um disco muito curto, mas te dá um soco na cara por 30 minutos. Paramos de soar como Venom e nos tornamos o Slayer. Nos tornamos nossa própria entidade. Acho que é por isso que se tornou importante para muitas pessoas.
O Slayer fez uma turnê de despedida há alguns anos. Por que vocês voltaram a fazer shows?
Porque os promotores não nos deixam em paz. Todos os dias as pessoas oferecem coisas ao Slayer e nós recusávamos até o ano passado. E eu pensei: ‘sabe, já faz cinco anos, vamos fazer alguns shows de aniversário’. Só tocamos dois dos três [que marcamos] porque um foi cancelado por causa da chuva. Uma vez que fizemos isso, eu pensei: ‘a Europa vai bater à porta’. A América do Sul ainda não bateu, mas eu aposto que no próximo ano vai.
Banda Slayer concede entrevista coletiva antes do festival Monsters of Rock, em São Paulo, 1998 Foto: Monica Zarattini/Estadão
Tem o Rock in Rio no ano que vem…
Ah, sim. No próximo ano, a América do Sul vai bater à porta. Não vamos mais fazer turnês e não vamos mais gravar, mas existem pessoas que estão envelhecendo e que nunca tiveram a chance de nos ver. Fazemos um bom show, ainda soamos bem. Então, estou aberto a tocar. Não quero fazer turnês com eles. E o Tom [Araya, vocalista] não quer fazer turnês, mas você pode escolher fazer uns quatro ou cinco shows por ano. Não temos nada marcado para 2026.
Vocês vão fazer parte do show de despedida do Black Sabbath, em um festival icônico. Será provavelmente o maior concerto de metal de todos os tempos. Quais são suas expectativas?
Estou extremamente animado. O Black Sabbath significa mais para mim do que eu consigo explicar e também por estar numa posição em que podemos tocar cinco músicas. Muitas das bandas só vão conseguir tocar duas. Tem tipo quatro ou cinco [grupos] que vão tocar mais. Fico arrepiado só de falar sobre isso. Mal posso esperar. E tem tantas bandas que eu quero ver: Metallica, Alice in Chains, Lizzy Hale. Sei que o acesso ao palco vai ser muito limitado. Então, espero que tenha uma tela para eu simplesmente colocar a minha cadeira e assistir a maior parte.
O satanismo é um assunto presente em muitas bandas de metal. Por que essa fascinação por Satanás?
Eu acho que isso anda de mãos dadas com a música pesada. É meio que como filmes de terror. As pessoas gostam desse aspecto mais sombrio da humanidade. A maioria das pessoas não vai agir nesse sentido. Obviamente, há alguns que agem, mas é apenas sobre a presença do mal e da escuridão. Muitas vezes eu uso a camisa do Terrifier. A primeira vez que vi esse filme eu pensei: ‘essa é a morte mais única que eu já vi’. E a melhor parte é que o [personagem] Art, O Palhaço simplesmente adora isso. Mas é justamente sobre como a parte mais sombria da humanidade intriga as pessoas. E sempre vai ser tão popular quanto impopular.
Mas também existe um elemento de subversão à Igreja e ao cristianismo, certo?
Acho que o cristianismo é o negócio mais ultrajante do mundo. Faz você se sentir mal por quem você é, leva seu dinheiro e não é taxado por isso. A igreja é um negócio que se aproveita da humanidade.
E você recebe muita reação negativa de fanáticos religiosos?
Isso passa desapercebido, cara. Ou isso, ou eles sabem que estão falando merda.
Kerry King, como artista solo, e sua banda tocam no festival Bangers Open Air, em maio, em SP Foto: Jim Louveau/Divulgação
Kerry King no Bangers Open Air
- Quando: 4 de maio de 2025
- Onde: Memorial da América Latina (Av. Mário de Andrade, 664)
- Ingressos: clubedoingresso.com
- Preços: R$ 596 a R$ 1.192
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