A ascensão e queda de Ednaldo Rodrigues na CBF
Ex-presidente sofre dois afastamentos e será sucedido por Samir Xaud, que terá Flavio Zveiter como um de seus vice-presidentes.
A seis meses da Copa do Mundo de 2026, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) termina um 2025 de turbulências. Depois de uma das maiores crises da entidade, a projeção para 2026 é de melhorias dentro de campo, com novo calendário, fair-play financeiro e impedimento semi-automático.
O começo do ano manteve o constrangimento de 2024, quando Ednaldo contava com Carlo Ancelotti, mas levou uma negativa do italiano e acabou com Dorival Júnior. O desempenho ruim e uma goleada por 4 a 1 para a Argentina encerrou a passagem do técnico.
Entretanto, o mau momento em campo contrastava com o presidente reeleito por unanimidade de clubes e federações. O último ato de Ednaldo foi concluir, enfim, a contratação de Ancelotti.

Samir Xaud assumiu presidência da CBF após saída de Ednaldo Rodrigues e nova eleição. Foto: Pedro Kirilos/Estadão
O mandatário não resistiu a uma exposição de gastanças e comando autoritário revelados pela revista piauí. Por exemplo, até 2021, antes de Ednaldo assumir, cada chefe das afiliadas da CBF recebiam R$ 50 mil. No começo de 2025, o valor chega a R$ 215 mil, com direito a 16º salário.
Como consequência, até mesmo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes “soltou a mão” de Ednaldo. Ele era quem mantinha o presidente no cargo diante de um processo movido no Tribunal de Justiça do Rio, aberto em 2023, no qual desembargador Luiz Zveiter determinou o afastamento de Ednaldo. Ele é pai de Flávio Zveiter, que articulou uma candidatura para suceder Ednaldo na CBF.
Quando os gastos e a gestão autoritária repercutiram negativamente, os apoios a Ednaldo desgastaram-se. Para formalizar o afastamento, foi apontada uma fraude no acordo que conferiu estabilidade à gestão de Ednaldo, assinado em janeiro de 2025.
A acusação era de que um dos signatários, o ex-presidente da entidade, coronel Nunes, não apresentava condições para assinar. O TJ-RJ recebeu uma determinação do STF para investigar a assinatura. O documento havia sido homologado pela própria Suprema Corte, em fevereiro. O caso veio à tona na última após uma perícia ser anexada ao processo.
Após “aval” do STF, o TJ-RJ finalmente afastou Ednaldo. Na época, conforme disse uma fonte ouvida pelo Estadão, a instabilidade jurídica, após a determinação do STF para que o TJ-RJ avaliasse o acordo que mantinha o presidente, foi “a gota d’água”.
Ednaldo tentou anular a decisão. O pedido foi feito por meio do departamento jurídico da CBF, ao mesmo tempo em que a própria entidade convocou novas eleições. Um dia depois, o presidente afastado pediu, com urgência, que o STF paralise o processo eleitoral.
Não foi necessário. O próprio presidente afastado comunicou que desistiu do retorno para, segundo ele, “pacificar” o futebol brasileiro.
“(Ednaldo) requer, movido pelo profundo desejo de restaurar a paz no futebol brasileiro e, sobretudo, a serenidade de sua própria vida familiar, que seja tornada sem efeito a petição anteriormente protocolada em seu próprio nome, em que impugnava a última decisão monocrática, expedida pelo desembargador Zéfiro, do TJ-RJ”, solicitou o Ednaldo.
Chegou a ser ensaiada uma disputa eleitoral. A pouco menos de dez dias para a eleição, 32 clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro articularam apoio a Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF). Boa parte das filiadas da entidade já tinha Samir Xaud como favorito.
Dos 32, 20 clubes se ausentaram do pleito, depois que Carneiro Bastos sequer teve sua chapa inscrita. Xaud foi é candidato único, com apoio de 25 federações, o que inviabilizou a inscrição de uma chapa adversária. Ele foi aclamado com mandato até 2029.
Flavio Zveiter foi um de seus vice-presidentes. Quem também se saiu bem foi Gustavo Feijó. O presidente da Federação Alagoana de Futebol ganhou o cargo de diretor de seleções.
Ancelotti vira autoridade da seleção e monta Brasil sem Neymar pela primeira vez desde 2011
Desde a primeira coletiva como treinador da seleção brasileira, Carlo Ancelotti é questionado sobre Neymar. O jogador enfrentou problemas físicos durante todo ano, no retorno ao Santos.
A resposta mais recente do italiano foi a mais dura. “Eu entendo muito bem que vocês estão interessados em Neymar. Eu quero ser claro. Estamos em dezembro, a Copa do Mundo é em junho. Quando vou convocar a equipe que vai jogar a Copa do Mundo, vou escolher em maio. Se Neymar merecer estar na Copa do Mundo, está bem. Se Neymar estiver melhor que outro (jogador), vai jogar a Copa do Mundo. Ponto. Eu não tenho dívida com ninguém”, disse o técnico em entrevista coletiva em Washington, nos Estados Unidos.
O Brasil encontrou uma forma de jogar sem Neymar, algo que não acontecia desde o time de 2010. Mesmo com derrotas para Bolívia (na altitude) e Japão, Ancelotti formou uma espinha dorsal em campo. A dúvida passou a ser entre Raphinha e Estêvão para compor o ataque com Vinicius Júnior, Rodrygo e, provavelmente, Matheus Cunha.
Isso tudo já conhecendo os primeiros adversários da Copa. “Temos de ganhar os três jogos. Temos que ter confiança no nosso trabalho. A estreia é sempre muito importante numa competição como esta e vamos manter o foco em todas as partidas”, comentou o treinador italiano sobre os duelos com Marrocos, Haiti e Escócia.
Antes disso, a seleção ainda tem testes, em março, um ano depois da demissão de Dorival. Os adversários serão França, em Foxborough, e Croácia, em Orlando.


