Ninguém sabe ao certo o que Donald Trump sabe — ou deixa escapar que sabe — sobre os bastidores da política brasileira. Mas uma coisa ficou clara nos últimos dias: o ex-presidente norte-americano se zangou com o Brasil.
A frustração do presidente Lula veio não apenas pelo conteúdo da mensagem, mas pela forma como ela chegou até suas mãos. Não foi por canais diplomáticos, tampouco em moldes oficiais. A carta — ou melhor, o aviso — foi enviado online, por meio de um site ligado a setores republicanos, com um tom direto e ameaçador: se o governo brasileiro não se ajustar, em algumas áreas-chave, às regras americanas de economia e política, os Estados Unidos imporão, a partir de 1º de agosto, uma sobretaxa de 50% sobre diversos produtos brasileiros.
O estopim acendeu. A panela de pressão ferveu.
Essa possível retaliação afeta diretamente setores cruciais da nossa economia — principalmente o agronegócio, que hoje é um dos maiores motores de exportação do país, com forte presença justamente no mercado norte-americano. Não se trata apenas de um recado. É um alerta estratégico que pode reconfigurar relações e contratos bilionários.
Na minha opinião, este é o momento de prudência. É hora de tirar a sabedoria da gaveta e colocá-la na mente e nas mãos das autoridades brasileiras. Desde o início do ano, Lula tem provocado os Estados Unidos — mais precisamente, Trump — com uma vara curta. De tempos em tempos, solta críticas atravessadas, recados velados ou falas amargas contra o governo americano. Foi assim também na recente reunião do BRICS, quando voltou a dar suas alfinetadas, alinhando-se a regimes de perfil autoritário.
Mas é bom lembrar que o mandato de Lula se encerra no próximo ano. E que o Leão das Américas — gostem ou não — vive a poucos passos de nossas fronteiras e tem garras longas. Será que Trump guarda cartas certeiras na manga e que, a seu tempo, vai colocá-las na mesa? Seria por isso que escolheu se comunicar com o Brasil através de um bilhete quase desprezível, sem o devido respeito diplomático?
O tempo dirá.
O Brasil vive dias difíceis em várias frentes, especialmente na economia. Basta perguntar à classe média ou aos mais pobres, que enfrentam semanalmente o desafio de fazer compras em supermercados e feiras livres. Esse povo já não suporta mais instabilidades internas — quanto mais uma guerra fria com o maior gigante do planeta.
Lucidez, equilíbrio e responsabilidade: é disso que mais precisamos agora. E que nunca nos esqueçamos do lema que, mesmo em tempos incertos, ainda tremula na nossa bandeira:
“Ordem e Progresso.”
Elcio Nunes
Cidadão Brasileiro