Dados recentes do Ministério da Saúde, divulgados pelo sistema Vigitel 2023, revelam uma mudança preocupante: depois de anos de queda consistente, o número de fumantes nas capitais brasileiras voltou a crescer, de 9,3% para 11,6% em um ano — especialmente entre jovens e mulheres. A popularização dos cigarros eletrônicos (vapes) é apontada como uma das principais causas dessa reversão.
De acordo com o levantamento, 2,6% dos homens e 2,0% das mulheres afirmam fazer uso de cigarros eletrônicos, com tendência crescente entre adolescentes e universitários. Cidades como São Paulo, Florianópolis, Curitiba e Brasília lideram em prevalência, enquanto capitais do Norte e Nordeste registram aumento acelerado entre os mais jovens.
A pneumologista Gerlania Simplício alerta que o cenário representa um retrocesso na luta contra o tabagismo, resultado da combinação entre novas estratégias da indústria, marketing digital e enfraquecimento das políticas públicas de prevenção.
“Durante muitos anos, o Brasil foi exemplo mundial no combate ao tabagismo. Mas, com a chegada dos dispositivos eletrônicos e a falsa ideia de que eles são menos nocivos, estamos vendo uma nova geração se tornando dependente da nicotina”, destaca a médica.
Entre os fatores que explicam o aumento do consumo, estão o marketing agressivo nas redes sociais, a falsa percepção de menor risco à saúde, o enfraquecimento das campanhas educativas e o acesso facilitado aos dispositivos, mesmo com a proibição da venda pela Anvisa.
Segundo a especialista, o apelo tecnológico e o design moderno dos vapes atraem principalmente os jovens. “Os cigarros eletrônicos são vendidos como algo ‘cool’, moderno, até associado a um estilo de vida fitness. Isso mascara o fato de que eles contêm nicotina e outras substâncias tóxicas, capazes de causar inflamação pulmonar, doenças respiratórias e dependência química”, explica Dra. Gerlania.
Além da nicotina, os vapores produzidos pelos dispositivos contêm solventes, aldeídos tóxicos e metais pesados, que penetram profundamente nos pulmões e podem provocar lesões graves, como a EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos).
“Já há evidências de que o uso prolongado causa inflamação crônica, alterações no muco e nos cílios das vias aéreas, aumentando o risco de DPOC, câncer de pulmão e infecções respiratórias”, alerta a pneumologista.
A médica reforça que a cessação do tabagismo é fundamental e que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito em Unidades Básicas de Saúde, com apoio psicológico, grupos de tabagismo e medicações específicas, como a bupropiona, vareniclina e a terapia de reposição de nicotina.
“Parar de fumar é um desafio, porque envolve dependência física, emocional e comportamental. Mas é possível, e o SUS tem estrutura para apoiar quem quer vencer esse vício. O importante é buscar ajuda”, incentiva Dra. Gerlania.
Ela lembra ainda que abandonar o cigarro — tradicional ou eletrônico — traz benefícios imediatos: melhora da respiração, do olfato, do paladar e redução do risco de doenças graves. “Cuidar dos pulmões é investir em qualidade de vida. Respirar saúde é muito melhor do que respirar fumaça”, conclui.
ClickPB


