A tradição é antiga. Atravessa gerações. Antigamente, elas eram poderosas. Durante muito tempo faziam parte da rotina de várias cidades. Vendiam dezenas de jornais e revistas por dia. Davam um bom lucro. Mas, com a chegada da internet, as bancas de jornais e revistas precisaram se reinventar, afinal, pouca gente está aparecendo para comprar periódicos.
Mesmo com a modernidade e o advento das mídias digitais e das redes sociais, algumas registem. Uma tradição que se renova. Em Campina Grande algumas bancas de jornal e revista ainda seguem vivas. Reinvenção é a palavra que define o momento atual desses estabelecimentos no Brasil, local que, no passado, era a principal fonte de venda desses impressos.
As tradicionais bancas de jornal marcaram época em Campina Grande e mesmo diante das transformações trazidas pela era digital, continuam atraindo público. No tempo em que os três principais jornais do estado circulavam na cidade, elas atraiam muita gente. Logo cedo o movimento era grande com as manchetes estampadas nas páginas dos periódicos. O tempo passou. Os jornais deixaram de circular e outros migraram para a parte online. Elas permanecem.
Esta semana o PB Agora visitou algumas das bancas de revistas que ainda sobrevivem nas ruas centrais de Campina Grande, e constatou que mesmo com os tempos modernos, elas seguem em funcionamento. Algumas, no entanto, não tiveram o mesmo destino. Por não acompanhar o ritmo do tempo, os seus proprietários optaram por migrar para outros ramos. Os espaços antes ocupados por jornais e revistas, se transformam em lanchonetes, conveniências e, principalmente, locais de venda de produtos carregadores e capas de celulares.
Entre a chegada da modernidade, o fim dos jornais impressos e o surgimento de novos serviços, as bancas de revistas sobrevivem e não perdem o ar nostálgico. Que diga o experiente José Orlando Dantas, com exatos 52 anos de banca, sempre no mesmo local, na Praça da Bandeira, em frente ao prédio dos Correios e Telégrafos.
Sempre de bom humor, sorriso no rosto e paciência para atender os clientes, seu Orlando conversou com o PB Agora, e falou da satisfação em manter o seu negócio funcionando há muito tempo.
E lembra com detalhes o primeiro dia de trabalho no estabelecimento em 1973 na rua Marquês do Herval.
“É 52 anos. Eu comecei no dia 10 de maio de 1973. Aqui faz parte de minha vida. Criei toda a minha família. Graças a Deus que eu posso tratar bem o pessoal, e tenho me saído bem assim. Quanta parte da imprensa como revista as vendas caíram 90%. Para você ter uma ideia, eu vendi aqui, O Jornal do Brasil, o Globo do Sul. E todos os de Pernambuco. Hoje em dia está resumido só na União “, observou.
Sentado em sua inseparável cadeira de meio século, ele fez um balanço nostálgico da profissão, enquanto atendia alguns estudantes recarregando o cartão de passagem. Lembrou do auge do estabelecimento quando recebia jornais nacionais como Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil, O Globo, Diário de Pernambuco além de diversas revistas que hoje não circulam mais. Seu Orlando lembrou ainda que durante muito tempo, a sua banca, bem no coração de Campina Grande, se tornou ponto de encontro de leitores e intelectuais.
“O comércio de revistas caiu muito. O que mais sai hoje é só cocktail, caça-palavras, cruzada. Mas foi daqui que criei meus filhos, e agradeço a Deus por isso”, afirmou.
A tradição desses empreendimentos, sem dúvida, passa de pai para filho e filhas. A banca da Suane é um exemplo. O estabelecimento existe há mais de 30 anos, e a proprietária, Suane Barbosa Dantas, é filha de José Orlando Dantas. Herdou do pai, a paixão pelo trabalho.
Para manter o negócio, ela apostou na variedade de produtos: doces, refrigerantes, água e itens de tabacaria.
“Eu tive que botar outras coisas tipo uma conveniente. Mas ainda ainda tem clientes fiéis, entendeu? Que prefere o papel. Porque pegar o papel, folhear o papel é diferente “, ressaltou.
Apesar dos desafios e incertezas sobre o futuro, as bancas ainda preservam um ar de tradição e saudosismo. Para muitos clientes, não são apenas pontos de venda, mas espaços de convivência e memória cultural.
Que diga o comerciante Davi Silva Luna, que herdou a banca do pai Jessé Souza Luna, no ramo desde a década de 1970, contou que cresceu no balcão entre jornais e revistas. Proprietário da Revistalândia, bem no Centro da cidade, Davi recebeu o PB Agora em um momento de intenso movimento. Ele admitiu que a chegada do digital trouxe forte impacto, mas afirma perceber um retorno de parte do público.
“No começo a gente sentiu bastante, mas tenho visto que a procura tem voltado. Muitas pessoas preferem o papel. Até para presentear, um livro físico tem um valor diferente de um digital”, disse.
Segundo Davi, além dos jornais, continuam em alta os passatempos, caça-palavras, livros e até a recente febre das revistas de colorir.
Davi Silva disse que ainda acredita na força desses empreendimentos, visto que algumas revistas impressas estão voltando a circular.
“A gente procura manter a tradição. Eu acredito muito que as pessoas que gostam de ler procuram bastante as coisas impressas ainda. Agora, algumas editoras não estão publicando mais, mas muitas já começaram a voltar. É o caso da revista Capricho, que tinha um tempo sumido e voltou. Algumas estão perdurando como a Cláudia, a Vogue e a própria Veja e Super Interessante. Além das histórias em quadrinhos também. Tem muita coisa” contou.
A solução dos proprietários de bancas de revistas e jornais que ainda sobrevivem em Campina Grande, foi diversificar os produtos, como explica o seu Orlando. Hoje, boa parte dos seus clientes são estudantes que aproveitam o espaço para recarregar o cartão de passagem e comprar outros produtos disponíveis no estabelecimento.
Se alguns dos donos de bancas estão tentando se reinventar para sobreviver, alguns desistiram. Em diferentes pontos da cidade, há estruturas fechadas e com outros proprietários. Mesmo assim, as que resistem mantêm o ar de nostalgia, mesmo os clientes não tendo mais o hábito de procurar o jornal e a revista como acontecia há alguns anos.
Severino Lopes
PB Agora