Nikolas Ferreira é, indubitavelmente, um fenômeno. Dono de um carisma ímpar e de uma retórica muito bem construída para prender a atenção do público, soma mais de 32 milhões de seguidores em suas redes sociais e já teve vídeo visualizado cerca de 350 milhões de vezes.
Entender o que projeta Nikolas como um dos políticos mais influentes do Brasil, com apenas 28 anos de idade, é entender também a própria lógica dos caminhos que a política começa a seguir.
Deputado Nikolas Ferreira Foto: Reprodução Canal Silas Malafaia via YouTube
No dia 25 de abril, em Vitória-ES, assisti a uma palestra ministrada por ele. Ao longo de quase duas horas, Nikolas desenhou um mundo dividido entre forças do bem e do mal. “A crise espiritual é disfarçada de crise política”, afirma, dando o tom do que está realmente em voga.
Seu discurso, pautado em forte carga emocional, traça um inimigo invisível, mas, segundo ele, presente em universidades, na mídia, na esquerda e em plataformas de entretenimento, como Netflix.
Chega a citar a série “O Gambito da Rainha”, que levou ao recorde de vendas de tabuleiros de xadrez no ano em que foi exibida, e questiona: “se fazem isso com xadrez, imagina o que não fazem com os conceitos do que é certo ou errado”.
Com uma presença magnética e fala estruturada, Nikolas mantém a plateia conectada do início ao fim. Ele não fala sobre política no sentido eleitoral convencional. Seu foco é mais íntimo e profundo, como a relação entre pais e filhos, o casamento, a fé e a religiosidade cristã. São temas que tocam diretamente o cotidiano das pessoas e que transformam a política em algo que ultrapassa o voto e o espaço coletivo, e invade amplamente a vida privada.
Seu discurso sugere que o inimigo já ocupa posições estratégicas e trabalha para normalizar o aborto, diluir as identidades sexuais, enfraquecer os homens, afastar as mulheres da maternidade e desconstruir a família tradicional. “Estamos perdendo a batalha”, diz, em tom de convocação.
Durante sua fala, ele cita nomes como Paulo Freire, Simone de Beauvoir, Antonio Gramsci, Karl Marx e os teóricos da Escola de Frankfurt. Para ele, são peças de um tabuleiro global em que o objetivo seria a corrosão dos pilares cristãos da sociedade.
Entre suas afirmações, uma se destaca. Nikolas afirma que a maioria dos estudantes universitários brasileiros deixa de acreditar em Jesus Cristo, no decorrer do curso. A informação, apresentada sem dados formais, serve para ativar um dos maiores temores da plateia, que é o de perder os filhos para um mundo que rejeita a fé.
Nikolas descreve um ambiente contaminado, como uma fumaça invisível que se infiltra pelas frestas da vida de cada um. É como viver em um lugar onde se desconfia da presença de veneno no ar. Mesmo sem vê-lo, a sensação de perigo constante constrói uma nova percepção do que seria a realidade.
Enquanto a maioria dos atores políticos de esquerda ainda concentra seus esforços na luta partidária, Nikolas opera em uma esfera mais complexa e intrincada. Não disputa apenas eleições. Disputa consciências. Sua narrativa é mais perene porque não depende de ciclos eleitorais e nem se limita à conquista de cargos públicos. Mobiliza um sentimento de urgência que convoca o público a se engajar de forma ativa, como um exército moral disposto a resistir ao que, conforme relata, pode entrar na sua casa e destruir, aos poucos, a sua família.
Portanto, Nikolas se apresenta como um líder de perfil messiânico. Sua missão, segundo ele próprio descreve, é despertar as pessoas para a batalha espiritual e cultural que estaria em curso. Durante a palestra, ele afirma que política é a arte de influenciar pessoas.
A força emocional de sua narrativa é inegável. Pais saem das palestras temendo que seus filhos sejam cooptados. Jovens saem com a sensação de que precisam urgentemente tomar um lado. Certezas são oferecidas onde antes havia apenas dúvidas. Trincheiras são erguidas onde existiam pontes possíveis.
Sua ascensão nas redes sociais se alimenta desse terreno. Em uma época de excesso de informações, Nikolas Ferreira entrega uma narrativa simples e poderosa. O bem contra o mal. A fé contra a corrupção moral. Propõe uma verdade, como uma revelação para os incautos. E para quem se identifica com seu discurso, o convite é direto: é hora de se levantar. Assim, forma o seu exército, sem pressa de chegar ao objetivo, pois sabe que ainda tem muitas décadas de atuação pela frente.