Após um mês de intensa disputa em torno, especialmente, da sucessão no conselho de administração da Eletrobras, os acionistas da companhia reuniram-se nesta terça-feira, 29, e votaram em ampla medida de acordo com as propostas apresentadas pelo grupo no comando da empresa elétrica. A surpresa ficou com a eleição do megainvestidor Juca Abdalla para uma das sete vagas no colegiado definidas pelos acionistas privados, superando Daniel Alves Ferreira, um dos indicados da administração.
Abdalla, que tem cerca de 4% da Eletrobras por meio do fundo de investimento em ações Dinâmica, controlado por seu Banco Clássico, teve dupla vitória na assembleia. Foi eleito para o Conselho da Eletrobras sem ressalvas, garantindo o direito de se manter também no conselho da Petrobras, empresa considerada concorrente da elétrica. Para isso, obteve uma dispensa da desincompatibilização, um benefício não concedido a outros candidatos.
Os indicados da União, Maurício Tolmasquim, hoje diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras; e os ex-ministros de Minas e Energia Silas Rondeau, atual presidente da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), e Nelson Hubner, que está no conselho da ENBPar, assinaram previamente o compromisso de deixar seus cargos atuais.
Completam a lista de eleitos para a nova composição do CA da Eletrobras os já conselheiros Vicente Falconi, Ana Silvia Corso Matte, Felipe Villela Dias, Marisete Pereira, além de Carlos Márcio Ferreira, todos candidatos da administração.
Na vaga dos preferencialistas, Pedro Batista, também atual conselheiro e candidato da administração, superou Rachel Maia, indicada por acionistas minoritários, com cerca de 85,3 milhões de votos, contra 45,8 milhões de votos.
Além de Alves Pereira e Rachel Maia, ficou de fora o advogado Marcelo Gasparino, atual conselheiro e que foi pivô de acirramento da disputa nesta eleição. Ele chegou a renunciar à posição no conselho da Petrobras para se manter na Eletrobras, mas não foi indicado pela administração, o que o levou a dar publicidade a divergências com os demais conselheiros, por meio de postagens em redes sociais e entrevistas.
Ele recebeu três advertências da administração, divulgadas ao mercado após escalar ao status de “falta grave”, motivadas principalmente pelo vazamento de documentos considerados sigilosos da empresa.

Juca Abdalla teve vitória dupla na assembleia da Eletrobras Foto: Pedro Kirilos/Estadão
Gasparino questionou todo o processo de seleção e a condução do processo eleitoral, assim como mudanças nas regras de funcionamento do conselho, caso da proposta de desempate por maioria de independentes.
Ele alegava que um grupo de acionistas busca controlar a companhia mesmo sem exercer seu controle formal, em prejuízo ao conceito de “corporation” (capital pulverizado) que caracterizaria a empresa desde a privatização. No entanto, o comportamento fortemente combativo do advogado, em alguns momentos “kamikaze”, como definiu um observador, gerou desconforto entre alguns acionistas.
Essa alteração na regra de desempate também foi aprovada pelos acionistas nesta terça-feira, assim como o termo de conciliação com a União que pacifica o litígio em torno da limitação de poder de voto da União.
O acordo, que envolve a previsão para que o governo aponte três membros do conselho de administração e um membro do conselho fiscal é o desfecho da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) movida pelo governo federal no Supremo Tribunal Federal (STF). Com a aprovação dos acionistas, o acordo segue agora para homologação do STF.
Planejamento
Superada, portanto, essa controvérsia, entre outros passivos, a Eletrobras deve se concentrar agora na execução de seu planejamento estratégico, que visa transformar a empresa em uma “plataforma de infraestrutura e solução energética renovável para clientes”.
A empresa indicou que esta perspectiva foi um das orientações que balizaram a avaliação dos candidatos a serem indicados pela administração para o Conselho. Passada a disputa ao colegiado, os novos membros, que deverão assumir a posição em até 30 dias, deverão se concentrar em superar eventuais divergências e focar na efetivação desse plano.