No livro “A armadilha da identidade”, o cientista político Yascha Mounk discute os problemas do identitarismo progressista. Apesar de Mounk ser de esquerda, suas críticas atingem o coração erosivo do identitarismo da própria esquerda.
Mounk lembra que, nas últimas décadas, a esquerda substituiu um discurso universal por uma visão identitária centrada em gênero, raça e sexualidade. Consequentemente, o discurso progressista erodiu o princípio da isonomia e a empatia entre pessoas e grupos diferentes, agravando a guerra cultural.
Rastreando as ideias que levaram a esse estado de coisas, Mounk identifica no pós-modernismo de Foucault, no decolonialismo de Edward Said e na teoria crítica e da interseccionalidade de Derrick Bell e Crenshaw as bases americanas do identitarismo progressista.
As principais consequências dessas ideias têm sido: ceticismo quanto à verdade, desconstrução de discursos, negação de progressos sociais, mudanças das leis e instituições para se adequar à subjetividade, fim do diálogo entre diferentes. Na busca por pureza identitária, o discurso se tornou extremamente agressivo.
Mounk argumenta que o avanço do identitarismo se deu por uma “curta marcha pelas instituições”. Redes sociais, mídias jornalísticas, universidades, ONG’s, grandes corporações foram tomadas por identitarismo que dividiu a sociedade.
O autor identifica as principais falhas do identitarismo: 1) destrói a empatia entre grupos distintos, 2) restringe os bens culturais sob a ideia de “apropriação cultural”, 3) ameaça fortemente a “liberdade de expressão”, 4) segrega a sociedade em espaços e bolhas que não se comunicam, e 5) ataca os valores da isonomia e do Estado de direito.
Mounk propõe retornar aos ideias liberais de igualdade política, liberdade individual e democracia com diálogo. A ideia é básica: voltar ao discurso universal de bem comum. Mas será ainda possível recuperar esse discurso em meio a uma militância de esquerda tomada por um discurso identitário tão agressivo e tomado por ódio?