Se há algo que a Argentina nos ensinou ao longo das décadas, é que a política pode ser repetida exaustivamente como um espetáculo tragicômico. E, às vezes, o trágico e o cômico se encontram em detalhes tão peculiares quanto um par de costeletas. Sim, aqueles tufos de pelos faciais que, em algum momento da história — mais precisamente na Inglaterra do século XVII —, alguém decidiu que eram sinônimo de autoridade.
Karl Marx, em sua infinita sabedoria, nos alertou que a história se repete: primeiro como tragédia, depois como farsa. E a Argentina, com sua tradição de eleger líderes que parecem ter acabado de sair bêbados e amarrotados de um bordel, é a prova viva de que o barbudo tinha razão. Afinal, os endinheirados argentinos parecem ter uma fixação por escolher, como seus prepostos, figuras que temperam discursos inflamados com costeletas pós-medievais.
Nos anos 1980, o escolhido foi Carlos Menem, um líder cujas costeletas literalmente assombraram o mundo. Menem assumiu o país com a economia em frangalhos e, após dez anos no poder, a entregou devidamente destruída.
Agora, em 2023, o escolhido foi Javier Milei, uma costeleta fascista que conversa com espírito de cachorro e promete salvar o país com uma receita já conhecida: mais ultraliberalismo, com explosão da concentração de renda, do desemprego, da fome, da miséria e mais subserviência aos Estados Unidos. Milei, em menos de seis meses, conseguiu superar Menem em eficiência destrutiva. Enquanto o primeiro levou uma década para arruinar o país, o segundo conseguiu empurrar a economia para o abismo em menos de três meses. A maioria dos indicadores socioeconômicos da Argentina de Milei já é a pior da sua história. Para piorar ainda mais, a proposta de Milei de dolarizar a economia argentina é como entregar as chaves de um carro em movimento a um motorista bêbado. A ideia de que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, gerencie a moeda argentina é uma subserviência que até Menem não teve coragem de adotar. É como dizer: “Não confiamos em nós mesmos, então vamos deixar os gringos cuidarem de tudo.” E, claro, isso só interessa às grandes corporações estadunidenses, que ficarão felizes em sugar até a última gota de recursos do país.
Menem e Milei ainda compartilham a obsessão de virar as costas para a América do Sul e declarar amor eterno aos EUA. Menem, em seu tempo, implodiu tratados comerciais regionais, como o Mercosul, na esperança de se tornar o “melhor amigo” dos estadunidenses. Não deu certo. Agora, Milei está no mesmo caminho, com declarações que beiram o desprezo pelos vizinhos sul-americanos. É como se ele dissesse: “Por que negociar com quem está ao nosso lado quando podemos nos humilhar por um abraço de Washington?” A ironia é que, enquanto eles se afastam da região, o resto do mundo avança em acordos regionais que fortalecem economias locais. Mas, claro, quem precisa de vizinhos quando se tem costeletas?
Na Argentina de hoje, vemos o desastre menemista se repetindo em ritmo acelerado e anabolizado. Menem deixou um legado de desindustrialização, desigualdade e desespero. Milei, com propostas que só podem ter lhe sido ditadas pelos espíritos dos seus cachorros, promove um show ainda mais caótico e pirotécnico. A dolarização, as privatizações extremas e o alinhamento cego aos EUA são uma receita infalível para o colapso.
Enquanto isso, a mídia hereditária brasileira, que um dia tratou Menem e Cavallo como gênios incontestáveis, agora repete o mesmo roteiro com Milei. É como se a história fosse uma piada que nunca envelhece, mas que, infelizmente, alguém sempre paga a conta. E, desta vez, quem está pagando são os argentinos, que veem seu país ser transformado em um laboratório de ideias ultrapassadas e perigosas.
No fim das contas, as costeletas podem ser apenas a demonstração de uma estética estranha; no entanto, o legado de líderes como Menem e Milei é eterno. E, enquanto a Argentina navega por mais um capítulo de sua história tragicômica, o resto de nós só pode torcer para que, da próxima vez, eles escolham alguém com um visual menos duvidoso — e um plano de governo mais sensato. Afinal, como se diz por aí: “Aqueles que não aprendem com a história estão condenados a repeti-la.” E, no caso da Argentina, parece que as costeletas são o símbolo perfeito dessa maldição.
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