Minha decisão não causará impacto. Cairá no vazio, não provocará apagão, as pessoas não correrão pelas ruas em lágrimas. Tudo vai continuar igual. Afinal, o Pratinha não disse que não existem mais cronistas? E aqui ele me deixou na dúvida. Hamletiana: sou ou não sou?
Seguinte, futebol para mim acabou. Fim. Deixei de torcer, o que fazia há 80 anos. Estou mais leve. Para desgosto de Julio Mazzei, do Alvaro Paes Leme, do Bazani, do José Roberto Malia, do José Carlos Stabel (corram ao Google). Os que me fizeram amar os estádios. Nem sei mais em que divisão a querida Ferroviária está, até dei pontapé inicial em jogos dela. Não quero mais saber de boleiros. Deixo de ir aos estádios.
Ao Pacaembu, só irei pelo restaurante BU-BU, onde está a melhor torta de siri que já provei. NA TV é bet, bet, bet, bet, aposta, aposta, prêmios, sorteios. Bet, nada a ver com Beth, tanto a Beth Caldas, sensualíssima de Araraquara, ou a Taylor, Cleópatra cafona. Gostava de futebol, levei meus filhos, escrevi um livro, É Gol.
Não tenho o poder de cronistas supimpas como Juca Kfouri, PVC e Tostão (eu estava no Pacaembu na noite em que ele levou uma bolada na cara).
Por que tudo isso? Desgosto, desconfiança. Não sei mais se o frango do goleiro foi proposital para atender a uma aposta. Não sei se aquele pontapé foi maldoso, acaso ou se significaria tantos reais ao maldoso. Não sei se o juiz está comprado. Nunca soube por que aquele lateral esquerdo amarrava a chuteira enquanto a França fazia um gol…
Jamais decifraremos o espasmo do Ronaldo Fenômeno naquele jogo contra a França. Foi a França, não foi? Não sei nada. Não sei se vou ser agredido ou esfaqueado ao sair de um estádio. O pior que sofri até hoje foi uma chuva de ovos podres no jogo AFE x Barretos.
Pensar no quanto amei futebol. Criança, era o goleiro, jogava no gol com meus primos José de Anchieta, Paulo de Tarso (família católica????? Loyola, o jesuíta) e Toni, este o único amigo de infância que ainda me resta. No colegial, fui campeão. No terceiro científico, estava na classe do meio-campista Bazani, craque da Ferroviária. Este montou time com a classe, me colocou no gol. Apavorado, argumentei: “Bazani, sou magro, fraco e baixo. Se alguém chutar me manda para o fundo da rede”. Ele riu: “Ignacio, estou no meio de campo. Acha que alguma bola vai chegar ao seu gol?”.
Não chegou, fui campeão. Agora, com a seleção de camiseta vermelha, desisti de vez.
Zagallo chora durante a conquista da Copa do Mundo de Futebol em 1962, no Chile, com a camisa da Seleção Brasileira. Foto: Reginaldo Manente/Estadão