Se você já assistiu a vídeos de estranhos em aplicativos como TikTok e Instagram ou usou recentemente o ChatGPT para criar uma ilustração no estilo estúdio Ghibli de você mesmo, você pode culpar um único momento da internet: o Desafio do Balde de Gelo (ou Ice Bucket Challenge).
Para quem não se lembra, o desafio começou com uma ação online de caridade em que uma pessoa jogou água gelada na cabeça, publicou um vídeo e desafiou outra pessoa a fazer o mesmo. Naquela época, assistimos a bilhões de vídeos com pessoas que se esfriaram até os ossos, incluindo Bill Gates, Oprah Winfrey, Elon Musk e Taylor Swift — no Brasil, Luciano Huck, Ana Maria Braga e Neymar toparam a ação.

Bill Gates no Ice Bucket Challenge, em 2014 Foto: Reprodução
Agora, o Desafio do Balde de Gelo está de volta como uma campanha de conscientização sobre saúde mental. E o renascimento me fez refletir sobre como a versão original moldou nossas vidas online hoje. Estou falando sério.
Para entender a internet que você usa em 2025, você precisa saber sobre a influência desse momento viral de uma década atrás. O desafio foi um precursor da atual agitação constante de memes virais, do hábito de seguir estranhos em vez de pessoas que você conhece online e da transformação da rede social por Mark Zuckerberg em torno de suas obsessões, como transformar o Facebook em um destino para vídeos online e tópicos de tendências.
Projetado para se tornar viral
Se você estava online em 2014, não poderia evitar o Desafio do Balde de Gelo que começou no meio daquele anos. Os vídeos dos despejos de água gelada decolaram no Twitter, YouTube, Instagram e Vine, o finado aplicativo de vídeos curtos. Mas o desafio realmente se tornou grande no feed de notícias do Facebook.
Isso não foi um fato totalmente inesperado. A empresa agora chamada Meta ajudou a criar o desafio do balde de gelo para se tornar viral e impulsionar a transformação do Facebook – de um lugar onde você compartilhava principalmente mensagens de texto e fotos com seus contatos pessoais em um ponto de acesso para entretenimento geral em vídeo e discussão de tópicos importantes.
Meses antes do desafio decolar, o Facebook havia começado a reproduzir vídeos automaticamente à medida que você percorria o feed de notícias — isso não parece incomum agora porque todos os aplicativos e sites fazem isso.
O recurso de reprodução automática ajudou a tornar os vídeos difíceis de serem ignorados enquanto você rolava o feed do Facebook, porque isso era parte da campanha da empresa para se tornar grande em vídeos. Essa estratégia ajudou a aumentar a popularidade dos vídeos do balde de gelo.
A empresa também havia lançado recentemente hashtags e listas de assuntos “em alta” para incentivar as pessoas a usar o Facebook para compartilhar notícias, falar sobre celebridades e programas de TV e, de modo geral, ter uma noção do que estava acontecendo no momento. Tudo isso era uma estratégia para bater o Twitter, o grande rival digital de Zuckerberg na época.
A viralidade do desafio provou que você publicaria, assistiria e compartilharia vídeos no Facebook aos bilhões. Isso mostrou que o Facebook poderia ser um destino para ver sobre o que as pessoas ao seu redor estavam conversando, mesmo que você não tivesse nenhuma conexão pessoal com elas.
E é isso que o Facebook é hoje: outro ponto de encontro online onde você não precisa de amigos. No julgamento para decidir se a Meta é um monopólio, a empresa disse este mês que apenas 17% do tempo que passamos no Facebook, e 7% do tempo no Instagram, é com publicações de amigos.
O papel do desafio na transformação do Facebook e do Instagram é um exemplo perfeito de como o mundo online, tal como existe hoje, não aconteceu simplesmente porque você gosta dele. Ele também é o resultado de decisões deliberadas para atender às prerrogativas comerciais de um punhado de pessoas poderosas como Zuckerberg.
O papel do desafio na transformação do Facebook e do Instagram é um exemplo perfeito de como o mundo online, tal como existe hoje, não aconteceu simplesmente porque você gosta dele. Ele também é o resultado de decisões deliberadas para atender às prerrogativas comerciais de um punhado de pessoas poderosas como Zuckerberg
“Até hoje, muitas pessoas da minha idade e mais jovens não fazem ideia de que isso foi promovido pelo Facebook”, disse Steffi Cao, escritora de cultura da internet de 26 anos que avaliou a influência duradoura de eventos online de 2014, incluindo o Ice Bucket Challenge.
Os influenciadores e os momentos virais não se originaram com o desafio, mas Debra Aho Williamson, que era analista de rede social na época, diz que os vídeos populares com grandes nomes provaram o poder da viralidade online para empresas com produtos para vender e para o resto de nós.
Williamson, que agora dirige a Sonata Insights, empresa de consultoria de marketing e inteligência artificial (IA), diz que parece estranho, para os padrões de 2025, o fato de o desafio do balde de gelo ter sido tão popular por muitos meses online.
Agora, há momentos virais online constantemente – como os bonequinhos gerados por IA ou o meme da Jojo Toddynho – enquanto “há provavelmente centenas de outras minitendências que nunca decolam” ou são rapidamente esquecidas, disse ela.
Portanto, da próxima vez que assistir ao vídeo de um estranho no Instagram, saiba que o Desafio do Balde de Gelo é um fator que ajudou a transformar a rede social em uma TV programada por algoritmos. Quando você assistir ao seu canal de viagens favorito no YouTube ou comprar um produto que viu no TikTok, saiba que esses vídeos gelados de 2014 ajudaram a moldar suas experiências.
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