Uma feliz coincidência faz com que – ao contrário da crônica passada que, ansiosa, antecipava o ano-novo – a de hoje “caia” bem perto do Dia de Natal.
Data do nascimento de Jesus Cristo: o Deus encarnado, nascido da Virgem Maria. Nesse dia, o Deus invisível de Moisés virou gente como nós.
O Deus invisível contrariava as potestades locais, representadas em pedra, bronze e ouro, porque era uma divindade etérea universal, capaz de estar em toda parte.
A adoração do bezerro de ouro justifica a ira de Moisés que havia recebido de seu Deus invisível, onipotente, onipresente e onisciente, as Tábuas da Lei que o seu povo deveria observar.

A natalidade celebra esse nascimento tão necessário neste nosso Brasil trancado por embaraçosas conspirações Foto: MarianStock/Adobe Stock
Só muito mais tarde, esse Deus foi representado como o Salvador porque – encarnado e humanizado – ficou como nós e teve uma cruz.
Meus cinco irmãos e eu ficávamos com medo de ganhar pedra em vez de presentes no dia de hoje. Nessa data em que solenizamos a vinda ao mundo desse Deus invisível, agora encarnado, que é condenado por pregar uma perturbadora ética igualitária: “Não faça com os outros aquilo que você não gostaria que fizessem com você”.
A natalidade celebra esse nascimento tão necessário neste nosso Brasil trancado por embaraçosas conspirações que se autoalimentam em patológicos assaltos à coisa publica. É triste ver a sociedade ser sistematicamente assaltada pelos governos de um Estado legitimado por leis que invariavelmente salvam seus donos. É um caso talvez banal nas repúblicas sempre sujeitas ao abuso, e a essa epidêmica corrupção que parece estar nos nossos ossos.
São essas agruras que a natalidade vem apaziguar com sua generosidade que programa o dar, receber e retribuir dos presentes, esses avatares dos afetos e do reconhecimento, como ensinou Marcel Mauss.
A troca de dádivas é uma valiosa sugestão de altruísmo em meio à triste sina de descobrir que somos vítimas permanentes daqueles que prometem nos representar!
O nascimento de uma nova vida exige presentes e demanda o presentear que os Reis Magos realizaram para o menino Jesus na sua manjedoura.
Todo nascer contém inocência. Por causa disso, mesmo velhos, nascemos muitas vezes. Toda criança recria uma pureza que nossos interesses desfazem, mas, sem a qual, não teríamos sobrevivido como macacos nus e angustiados.
Feliz Natal!


