A política de Soledade, no Cariri paraibano, vive um daqueles momentos em que o bastidor fala mais alto que o palanque. O prefeito Miranda Neto se vê no centro de um tabuleiro complexo, onde aliados históricos, novos parceiros e interesses divergentes criam tensão diária. E, goste-se ou não do estilo do prefeito, é preciso reconhecer: poucos gestores enfrentam um desafio interno tão delicado quanto o dele.
Miranda não chegou ao poder por acidente. Foi indicado por Geraldo Moura, ex-prefeito e liderança influente no município. Geraldo apostou que Miranda seria a figura mais preparada para garantir continuidade ao seu projeto político. Mas a política raramente segue o roteiro imaginado. A aliança com a empresária Nirinha, solidadense e primeira-dama de Cubati, ampliou o alcance eleitoral da chapa, mas também abriu espaço para contradições que hoje ecoam dentro do governo.
A verdade é que Geraldo Moura nunca assimilou totalmente o estilo político do grupo de Nirinha. E o grupo da vice-prefeita, que inclui o presidente da Câmara, Ribeirinho, enteado dela e filho do prefeito de Cubati, tampouco demonstra disposição de seguir integralmente a linha defendida pelo ex-prefeito. O resultado é um governo que funciona como amortecedor entre duas forças que coexistem, mas não se harmonizam.
As eleições de 2026 deixam o racha ainda mais evidente. Miranda mantém apoio a Agnaldo Ribeiro para federal e a Wilson Filho para estadual, enquanto o grupo de Nirinha e Ribeirinho já definiu voto em Wilson Santiago para federal. Uma divergência clara e pública, e que expõe a fragilidade dessa convivência política.
E aqui surge um ponto crucial que muitos no município já observam à distância: se houver rompimento, Miranda não terá qualquer dificuldade para escolher o lado ao qual permanecerá ligado. Seu alinhamento natural é com Geraldo Moura, não apenas por gratidão política, mas porque Geraldo continua sendo seu aliado de primeira hora e hoje atua como secretário da gestão. Ou seja, se o grupo rachar, Miranda já tem lado definido, e não é o da vice-prefeita.
Essa realidade reforça que Miranda, para preservar seu governo e seu capital político, precisará mais do que jogo de cintura, precisará de estratégia e firmeza. Se não agir para reorganizar a base, corre o risco de ver seu projeto ser corroído por disputas internas que nada têm a ver com a gestão e tudo têm a ver com protagonismo e cálculo eleitoral.
Soledade não é terreno político ingênuo. Quem perde o pulso da base perde também o rumo do projeto. Miranda sabe disso. Geraldo sabe disso. E Nirinha e Ribeirinho jogam dentro dessa lógica.
No fim das contas, manter o grupo unido não é apenas desejável, é vital. Se Miranda conseguir apaziguar os ânimos, sai fortalecido. Se fracassar, poderá ser lembrado como o prefeito que herdou um grupo forte e viu esse capital se fragmentar em suas mãos.
Soledade expõe, com clareza rara, o desafio da governabilidade em cidades pequenas. E 2026 dirá quem tem habilidade, e quem terminará engolido pela própria base.
Por Bruno Lira


