Segundo reportagem publicada nesse domingo (15) pela Folha de S.Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), recuou de uma postura inicial mais conciliadora com o governo federal e o Supremo Tribunal Federal (STF), e tem adotado medidas que acirram o clima de confronto entre os Poderes. A guinada no discurso e nas ações de Motta, de acordo com o jornal, ocorre em meio a pressões crescentes de parlamentares insatisfeitos e ao risco de perda de apoio no plenário.
A Folha relata que, para manter sua base coesa, Motta decidiu submeter ao plenário da Câmara a decisão sobre a perda do mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP), mesmo após determinação do STF. Além disso, pautou projetos de decreto legislativo para sustar normas editadas pelo Executivo, incluindo um decreto que elevou o IOF e uma portaria do Ministério do Trabalho sobre trabalho aos domingos e feriados no comércio.
O centro do impasse, segundo a matéria, está na execução das emendas parlamentares, usadas por deputados e senadores para direcionar recursos a seus redutos eleitorais. Com as novas regras impostas pelo STF e o atraso no empenho das verbas, o Congresso tem enfrentado dificuldades para executar as emendas — o que ampliou a tensão com o governo.
A reportagem também destaca que Hugo Motta, apesar de manter um discurso público de diálogo, vem se afastando do Planalto. Ele rejeitou convite para compor uma comitiva presidencial à China e Rússia e preferiu uma agenda nos Estados Unidos com empresários críticos à política fiscal do governo Lula. Em suas declarações mais recentes, criticou o aumento de impostos e cobrou um pacote de corte de gastos estruturais como alternativa.
Ainda de acordo com a Folha, parlamentares aliados de Motta dizem que a mudança de tom é uma tentativa de reafirmar a independência da Câmara e atender aos anseios da maioria da Casa. Mesmo assim, o presidente da Câmara afirma a seus interlocutores que manterá a postura de diálogo, mas sem abrir mão de defender as prerrogativas do Legislativo.