O ano era 1912 e o Cariri paraibano fervilhava sob o domínio dos coronéis, figuras que detinham o poder absoluto e impunham sua vontade com base em influência, armas e latifúndios. Em Monteiro, uma das cidades mais estratégicas da região, mais um capítulo de sangue e poder foi escrito nas páginas da história local, com um embate que marcou o cenário político da época.
No centro da trama, estava Augusto Santa Cruz, poderoso latifundiário e advogado influente, que nutria uma oposição ferrenha ao governo estadual vigente. Seu plano era ousado: desestabilizar o estado da Paraíba, provocar o caos em cidades estratégicas e forçar uma intervenção federal, com o objetivo de derrubar o então Presidente do Estado – cargo equivalente ao de governador.
Para colocar seu plano em prática, Augusto mobilizou seus jagunços e os enviou para invadir a Fazenda Amaro, pertencente ao coronel Pedro Bezerra, que na época exercia o cargo de intendente de Monteiro (equivalente a prefeito). A escolha da fazenda não era por acaso: Augusto e Pedro foram um dia aliados políticos, mas a quebra dessa aliança deu lugar a uma rivalidade feroz, alimentada por divergências e ambições opostas.
A investida dos jagunços foi brutal. A casa-grande da Fazenda Amaro se tornou palco de um conflito sangrento que durou três dias, com trocas intensas de tiros e tentativas insistentes de invasão. Do outro lado, o coronel Pedro Bezerra resistia com coragem e estratégia, defendendo sua propriedade e sua autoridade com a determinação de quem não se curva diante de ameaças.
No fim, a resistência se mostrou mais forte. Pedro Bezerra saiu vitorioso, mantendo sua fazenda e consolidando sua posição de liderança local. Os jagunços de Santa Cruz, exaustos e sem conseguir avançar, foram obrigados a recuar.
Esse episódio é apenas um entre tantos que compõem a época dos coronéis no sertão paraibano, marcada por embates onde o poder era medido na ponta do fuzil. Uma era em que a política se misturava à guerra, e o destino das cidades era decidido por homens de ambição, coragem e força.
O confronto entre Pedro Bezerra e Augusto Santa Cruz permanece como uma memória viva das disputas que moldaram o Cariri, um lembrete das raízes profundas de um tempo onde a política era, muitas vezes, questão de vida ou morte.
Por Abrão Anastácio
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