Entre janeiro de 2019 e abril de 2025, 13 mulheres da etnia warao morreram na Paraíba. As mortes delas representam 59% do total de 22 óbitos de indígenas venezuelanos registrados no estado.
Os dados foram fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) e analisados pelo Núcleo de Dados da Rede Paraíba, com base em informações obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação.
As mortes ocorreram em João Pessoa, que concentra 21 óbitos e em Campina Grande, com um.
Dentre as vítimas do sexo feminino, seis tinham menos de 30 anos.
Em contrapartida, os óbitos masculinos afetaram principalmente homens adultos ou idosos, com idades entre 50 e 75 anos.
Causas das mortes: doenças evitáveis e vulnerabilidade
A análise das causas das mortes revelou que, em grande parte dos casos, as vítimas faleceram por causa de doenças que poderiam ser evitadas com intervenções básicas de saúde pública.
Aproximadamente 73% dos óbitos foram relacionados com condições como broncopneumonia, sepse, tuberculose, eclâmpsia, desnutrição e diarreia, doenças que podem ser tratadas com acesso a cuidados médicos adequados e serviços de saúde básicos, como acompanhamento durante a gravidez e assistência pediátrica.
A Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa informou que criou, em 2023, um departamento voltado a imigrantes e refugiados, com ações como vacinação, fornecimento de medicamentos e apoio ao planejamento familiar nos abrigos. A equipe também busca aproximar essa população das Unidades de Saúde da Família, respeitando aspectos culturais e promovendo autonomia.
A pasta reconheceu que ainda há resistência de parte das famílias warao em aderir aos cuidados, o que pode aumentar o risco de adoecimento e mortes evitáveis. Sobre as testagens, afirmou que pacientes com resultado positivo são atendidos, orientados e medicados, e que a investigação epidemiológica segue com os setores responsáveis.
Outros casos envolveram mortes por malformações congênitas, câncer e causas não definidas, além de duas mortes ainda em investigação.
Entre as vítimas, 45% tinham até um ano de idade, sendo que seis delas tinham menos de seis meses e duas eram natimortas. Também foram registrados óbitos de uma criança de 10 anos e de uma adolescente de 16 anos.
Situação de superlotação e surto de leptospirose em abrigos
Além do alto número de mortes, a situação de vulnerabilidade das famílias warao na Paraíba é agravada pela superlotação nos abrigos. O governo estadual iniciou negociações para a transferência dos indígenas para novos locais, com o objetivo de melhorar as condições de saúde e acolhimento.
A medida foi tomada após a suspeita de um surto de leptospirose em um dos abrigos de João Pessoa, que atualmente abriga quase o dobro da sua capacidade de 50 pessoas.
De acordo com o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), que acompanha a situação, mais de 50 pessoas do abrigo foram examinadas após a denúncia de surtos de leptospirose, e seis testaram positivo para a doença.
O aumento da população warao no estado, que passou de 378 para 625 pessoas em pouco mais de um ano, tem pressionado ainda mais a estrutura de acolhimento.