Em meio a negociações diplomáticas, discursos históricos e decisões que moldam o mundo, um detalhe curioso humaniza figuras políticas globais: seus animais de estimação. Cães, gatos e até borboletas — já ocuparam espaços de destaque ao lado de importantes figuras políticas. Muito além do afeto, esses mascotes revelam a personalidade pouco conhecida dos poderosos, viram símbolos políticos e, em alguns casos, protagonistas de eventos históricos.
Os animais de estimação de líderes mundiais muitas vezes ultrapassam o papel de simples companheiros. Tornam-se personagens políticos, instrumentos de marketing, símbolos de resistência e até agentes da diplomacia. Por trás de cada história, um lembrete: mesmo no topo do poder, há espaço para lealdade, afeto — e latidos.
América Latina: laços afetivos e simbólicos
No Brasil, a cadela Resistência marcou a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2023 ao subir a rampa do Planalto, algo inédito para um animal. Adotada por militantes quando Lula estava preso, ela se tornou um símbolo de lealdade e resiliência.
Quando o presidente ficou preso por mais de 500 dias em Curitiba, a vira-lata foi acolhida ainda filhote por metalúrgicos de São Bernardo do Campo e se tornou o xodó do acampamento.
Na vigília, enquanto vestia uma bandeira do PT e posava para fotos com artistas e fãs, ela se tornou uma celebridade. Devido ao frio em Curitiba e da vida ao ar livre, a cadelinha sofreu com problemas respiratórios e precisou ser internada em um hospital-veterinário.
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, acolheu a Resistência, e a levou para casa. Lula só a conheceu em novembro de 2019, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou a notificação de Lula no caso do Tríplex do Guarujá.
Veja momento:
O ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica, que morreu na terça-feira (13/5), teve um estilo de vida que pode ser considerado sinônimo de simplicidade. Morando em uma chácara modesta e dirigindo um fusca azul, Mujica virou referência mundial por abrir mão dos luxos da política.
Mas poucos elementos traduzem tão bem essa escolha quanto a figura de Manuela, sua cadelinha de três patas, atropelada acidentalmente por ele mesmo, que se tornou companheira inseparável por mais de uma década.
A relação entre eles era tão forte que, segundo Lúcia Topolansky, viúva de Mujica, Manuela sabia de cor os movimentos dos donos. “Sempre que Mujica ficava ausente por um tempo, dava para ver que ela sentia a falta dele”, contou.
O último desejo que o uruguaio expressou em vida era o de ser enterrado na chácara onde morava, nos arredores de Montevidéu, ao lado de sua inseparável companheira enquanto viveu.
A argentina Cristina Kirchner recebeu como presente de Hugo Chávez o cão Simón, da raça mucuchies, típica da Venezuela. O gesto cumpria uma promessa do ex-presidente venezuelano e simbolizava a aliança entre os dois governos.
Mascotes norte-americanos
A Casa Branca é famosa por abrigar pets presidenciais. Fala, o Scottish Terrier de Franklin D. Roosevelt, foi tão popular que chegou a ser citado em discursos e teve uma estátua erguida em sua homenagem. Décadas depois, John F. Kennedy ganhou dos americanos a imagem de uma família ideal com o pônei Macaroni, que pertencia à sua filha, Caroline.
Durante o governo de Barack Obama, os cães Bo e Sunny, ambos da raça Cão d’Água Português, foram escolhidos por serem hipoalergênicos, uma necessidade da filha Malia. Já o atual presidente, Joe Biden, fez história com Major, o primeiro cão resgatado de um abrigo a viver na Casa Branca.
Putin e cães
Na Rússia, o presidente Vladimir Putin já foi flagrado em vídeos recebendo filhotes como presentes diplomáticos. Um deles, o cão Buffy, teve seu nome escolhido por um menino em um concurso nacional — um gesto cuidadosamente calculado de proximidade com o povo.
Entretanto, a proximidade do russo com cães é uma característica marcante dele. Putin teve diversos cachorros ao longo do tempo, incluindo um pastor-do-cáucaso chamado Yuma, que era um dos seus animais de estimação favoritos.
Em 2017, o líder do Kremlin ganhou um filhote de Alabai, raça listada como patrimônio nacional turcomano, do presidente Gurbanguly Berdimuhammedow. O momento viralizou após Putin receber o filhote de forma extremamente carinhosa.
Veja vídeo:
Em contraste sombrio, o ditador Adolf Hitler tinha uma cadela chamada Blondi, que era frequentemente exibida ao seu lado em imagens de propaganda nazista. O animal acabou se tornando um símbolo de sua tentativa de transmitir afeto e humanidade.
No Reino Unido, o ex-primeiro-ministro Winston Churchill mantinha uma diversidade de animais em sua casa de campo, incluindo cães, gatos e até borboletas, o que reforçava sua personalidade excêntrica e amante da natureza.
Heróis… cães de guerra
Um dos casos mais marcantes do presente vem da Ucrânia: o cão Patron, treinado para farejar minas terrestres durante a guerra, tornou-se um herói nacional. Em 2022, ele foi condecorado com uma medalha pelo presidente Volodymyr Zelensky, em reconhecimento ao seu serviço à pátria.
Já o presidente Theodore Roosevelt, dos EUA, levava sua paixão por animais ao extremo. Em seu mandato, manteve na Casa Branca uma coleção que incluía um urso, um leão, uma águia, uma cobra e até um canguru — reflexo de seu espírito aventureiro e da tentativa de moldar a figura do líder destemido.
Em meio à rigidez dos cargos, os animais de estimação revelam um lado íntimo e simbólico do poder, de atos diplomáticos traduzidos em presentes peludos a companheiros silenciosos de inúmeras jornadas. Tais mascotes são retratos vivos da humanidade por trás das decisões que moldam a história.