Sinal fechado. O tempo não para.
Como pode uma música de Cazuza identificar tão bem a miséria brasileira – e não é a canção “Brasil”, em que o compositor pede que o país mostre a sua cara. Cara de ontem, cara do que já foi.
Não, a canção em que Cazuza foca a tragédia brasileira é “O Blues da Piedade” – e nos convida para pedir piedade dessa gente careta e covarde.
Nessa peleja do diabo com o dono do céu, encorpados e fantasiados de Lampião, Maria Fulô, Macunaíma, Zé de Riba e Zé de Baixo, favelados, miseráveis, formam o bando da canção “Brasil Pandeiro” de Assis Valente, este, sugere que essa gente bronzeada mostre seu valor. Faz tempo, hein?
Impecavelmente infectados a instigar a própria morte por excesso de velocidade cerebral, é quase igual a encher a cara de cana e sair por ai atropelando e matando “gente lavando roupa com a mão, amassando o pão”.
Como pode um sonho barricar, numa trincheira improvisada, se o sonho mais lindo, mais singelo, é o das crianças.
De longe, o carregamento das almas forma fileiras no purgatório, já que o inferno é aqui mesmo.
Como pode elogiar a Loucura do Erasmo, se os verdadeiros loucos surtam em interpretações outras, diante de pequenos querubins, operários e analfabetos.
Como pode um gênio criativo Cazuza ter agonizado num hospital com uma overdose de poesia num esforço sobre-humano para sobreviver e ser entendido como a mais perfeita engrenagem da canção.
Ontem em Tambaú encontrei o Kerouac à espera de boleia ou de alcançar o Nirvana. Nessa hora, o sinal abriu.
Afina, quem tem razão? Cazuza ou Djavan, com o seu jardim em prantos da canção “Vesuvio”, se as rosas de Cartola falam outra língua e as torturas verbais são apocalípticas.
Pois bem, se Cartola fosse do interior de Minas teria criado “As roças não falam”.
Kapetadas
1 – Já tive memória. Depois, uma vaga lembrança. E sobre o quê eu estava falando mesmo?
2 – Beba com moderação é um conceito útil, mas impraticável.
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