Com que espírito, eu me pergunto, a Rússia de hoje comemora os 80 anos da tomada de Berlim, em 1945?
É verdade que a União Soviética ajudou a sufocar o nazismo — e por isso, agradecemos. Mas, logo em seguida, lançou grande parte do povo alemão e do Leste Europeu a uma vida de servidão e sofrimento sob um regime tirânico, sem qualquer traço de liberdade. Tirou-os do horror nazista para mergulhá-los numa miséria extrema. Segundo estimativas históricas, o comunismo, apenas em seu primeiro século de existência, foi responsável por mais de 100 milhões de mortes — incluindo vítimas do regime comunista chinês.
Afinal, o que aconteceu com os alemães do lado oriental? Ficaram enclausurados, improdutivos, sufocados por longos e áridos anos sob um sistema opressor que esmagava qualquer possibilidade de liberdade individual. Quando, finalmente, o infame muro caiu, eles se depararam com o lado livre do mundo como cães mantidos por anos num quintal estreito — desnorteados, desordenados, sem saber nem mesmo como caminhar em direção à liberdade. Encontraram-se frente a frente com um novo mundo desenvolvido, enquanto eles, que viveram décadas sob a ditadura comunista, jamais haviam aprendido sequer os ofícios mais básicos: encanador, pedreiro, eletricista… profissões essenciais para reconstruir a própria vida.
Se a Rússia de hoje tivesse mais pudor, não haveria nada a celebrar. Porque a vergonha e a humilhação daquele tempo ainda caminham silenciosamente, assombrando tanto as gerações antigas quanto as modernas.
A história, afinal, não deixa a verdade morrer precocemente.
Elcio Nunes
Cidadão Brasileiro